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    Vinicius Torres Freire

    Dólar a R$ 2,60. Ou a R$ 3?

    18/11/2014 02h00

    O dólar a R$ 2,60 é o "novo preto"? Quer dizer, esse é o novo valor máximo que o Banco Central considera tolerável? "Tolerável" significa tanto um preço que não arrebente a inflação como um valor que seja possível defender, dadas as pressões de desvalorização. Há quem acredite que o dólar custará R$ 3 mais cedo do que se imagina.

    A dúvida surgiu na sexta-feira, quando o Banco Central alterou de leve o plano de intervenção no mercado futuro de câmbio, intervenções que ocorrem de modo formal e quase previsível desde agosto de 2013, quando o real derreteu um bom tanto durante uma onda de paniquito do mercado internacional. Dado o anúncio das intervenções, na sexta-feira, rapazes do mercado assuntavam que R$ 2,60 poderia ser o novo teto de uma "banda informal".

    Entre agosto de 2013 e o início firme da campanha eleitoral, por volta de setembro, o dólar flutuou entre R$ 2,20 e R$ 2,40, obviamente não apenas, e talvez nem principalmente, por causa da mão do BC (o tumulto mundial arrefeceu).

    O BC talvez apenas pretenda maneirar a presente onda de desvalorização do real, empurrado para baixo por pressões externas e também devido à maçaroca político-econômica brasileira.

    Desde que voltou a elevar os juros, no final de outubro, o BC dava a entender que esperava desvalorização maior e mais duradoura da moeda brasileira. Aliás, esse teria sido o motivo mais influente do aumento da Selic. Até setembro, o BC fazia suas contas de inflação futura pressupondo um dólar a R$ 2,25 (fechou ontem a R$ 2,60).

    A moeda norte-americana, porém, começou a subir a rampa de modo mais decidido. Além do mais, o BC não pode bancar os riscos (aliás caros) de segurar o câmbio enquanto o mundo inteiro vai em outra direção. Enfim, o estado da economia brasileira pede um dólar mais alto, o que tende a reprimir excesso de consumo e ajudar um tico as exportações.

    "A maioria das moedas dos países emergentes corre perigo", escreve Stephen Jen em um texto para clientes do banco Itaú (não se trata da opinião dos economistas do Itaú). Jen é financista, sócio da SLJ Macro Partners, foi economista-chefe do Morgan Stanley, trabalhou no FMI etc.

    Observa que a fuga desabalada de moedas e aplicações financeiras de países emergentes parou entre fevereiro e maio deste ano, mas acredita que a tendência é de baixa inevitável. O dólar pode chegar a R$ 3 mais cedo do que muita gente imagina, escreve Jen. O economista nem está pensando nos rolos específicos da economia e da política brasileiras, note-se.

    O comentário sobre as moedas e papéis de emergentes estava embutido em uma nota analítica sobre a tendência de valorização do dólar diante de todas as moedas relevantes do mundo, devido à aceleração relativa do crescimento da economia americana.

    Jen tratava ainda da queda do preço do petróleo, de commodities e do fim da enorme onda de criação de dinheiro, neste 2014, uma inversão de tendências da primeira década do século que vai criar problemas para os emergentes.

    O chute informado de gente razoável, no Brasil, é de dólar entre R$ 2,60 e R$ 2,80 no final de 2015. Para constar.

    vinicius torres freire

    Está na Folha desde 1991.
    Em sua coluna, aborda temas políticos e econômicos. Escreve de quarta a sexta e aos domingos.

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