• Colunistas

    Monday, 06-May-2024 09:49:48 -03
    Vinicius Torres Freire

    Dilma e seus inimigos ocultos

    04/12/2014 02h00

    Na segunda, a polícia de São Paulo prendeu um auditor da Aneel, acusado de extorquir dinheiro de um empresário do ramo de geração de energia (Aneel é a Agência Nacional de Energia Elétrica, reguladora do setor). Na semana passada, a Polícia Federal deu dezenas de batidas em busca de provas e depoimentos de auditores da Receita Federal acusados de extorsão em troca de alívio de impostos. Depois do Petrolão, tudo isso parece troco.

    Mas é difícil saber de antemão se, numa dessas operações, a polícia não acaba por chegar a um doleiro ou lavador de dinheiro, estourando a banca de mais um prestador de serviços para roubanças maiores. Grandes escândalos começaram assim, um choque de um fio desencapado de uma grossa meada. Há fios desencapados demais, no entanto.

    Imagine-se então que tenham fundamento as acusações que os delatores do Petrolão vêm fazendo, com mais e mais frequência, a respeito de roubanças outras em negócios grandes do governo, como no caso já tradicional de obras viárias ou, novidade, na Eletrobras. O tamanho da encrenca, claro, seria ainda maior, bidu.

    Pois bem. O governo fez cara de paisagem durante alguns meses depois que se tornou público o Petrolão, escancarado pela Operação Lava Jato da Polícia Federal. A fase mais recente da Lava Jato, a operação Juízo Final, levou mais negócios para o ventilador de denúncias e esquentou outras tantas.

    A ventania é forte sobre obras do setor elétrico. O governo estaria torcendo para ver se ninguém repara no elefante na sala, na esperança cega de que não exista nenhuma roubança elétrica ou de que a polícia não esbarre nisso, de que não se descubra outra rede de propina e lavagem de dinheiro?

    Há um universo policialmente inexplorado de nomeações "políticas" para diretorias de tantas empresas públicas. Isto é, nomeações para "diretorias que furam poço", na frase imortal de Severino Cavalcanti, o deputado do baixíssimo clero eleito presidente da Câmara em 2005, que caiu poucos meses depois, acusado de extorquir dinheiro da lanchonete do Congresso, uma diretoria do misto quente. Cavalcanti sabia do que estava falando quando reivindicou uma diretoria gorda da Petrobras. Mas não apenas na petroleira há "diretoria que fura poço".

    A gente sempre se pergunta o que um partido quer com a nomeação de um diretor de banco estatal. Implementar suas políticas de ampliação de crédito, discutir a adequação do banco às normas de Basileia, incrementar a bancarização?

    Rosemary Noronha, funcionária menor da Presidência da República nos anos Lula, foi capaz de indicar diretores da Agência Nacional de Águas e da Aviação Civil, todos acusados de tráfico de influência nesse escândalo revelado em 2012, indício de que pode haver cadáveres plantados em várias hortas do governo.

    Há ministros e ex-ministros, suas famílias e agregados, sob suspeita de rolo grosso em escândalos recentes e diversos. Há dezenas de parlamentares acusados pelos delatores do Petrolão. Quantos deles nomearam diretores de estatais, agências reguladoras ou algo assim?

    Dilma Rousseff já ordenou a passagem de pente-fino seguido de limpa, se for o caso? Ou vai começar seu governo caminhando inadvertida pelo campo minado?

    vinicius torres freire

    Está na Folha desde 1991.
    Em sua coluna, aborda temas políticos e econômicos. Escreve de quarta a sexta e aos domingos.

    Fale com a Redação - leitor@grupofolha.com.br

    Problemas no aplicativo? - novasplataformas@grupofolha.com.br

    Publicidade

    Folha de S.Paulo 2024