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    Vinicius Torres Freire

    A conta da saideira de Dilma 1

    07/12/2014 02h00

    Antes que se saiba como os novos economistas de Dilma Rousseff vão conter gastos e arrumar dinheiro extra, despesas novas aparecem na conta do fim de noite do governo Dilma 1. A conta da saideira não é uma extravagância desembestada, mas vai comer parte do aumento de imposto que ainda está na prancheta.

    Além do mais, fica a impressão, materialmente irrelevante mas ridícula, de que o pessoal rapa a bandeja de salgadinhos e os enfia no bolso, à beira do fim da festa.

    O governo estuda, por exemplo, reinstituir a cobrança do imposto sobre combustíveis, a Cide. Dê-se o chute informado que a Cide ponha uns R$ 12 bilhões para o caixa do Tesouro Nacional, 0,2% do PIB. O governo espera que o setor público faça um superavit de 1,2% do PIB no ano que vem, partindo do zero deste ano (essa conta de superavit não inclui a despesa com juros. Com juros, há deficit de 5% do PIB).

    Pois bem, o dinheiro virtual da hipotética volta da cobrança da Cide já pode estar indo para o ralo, dados alguns aumentos de despesa contratados no fim deste ano ou prometidos. Considerem-se algumas delas.

    A presidente quando candidata prometeu reajustar a tabela do Imposto de Renda da Pessoa Física para 2015. Ou seja, menos gente vai pagar imposto, mais gente vai pagar imposto sobre parte menor da renda. Deve dar mais de R$ 5 bilhões.

    O Congresso aprovou um aumento do repasse que a União faz a municípios, uma fatia de impostos federais (IR e IPI), determinada pela Constituição. Começa a valer em parte no ano que vem. Dá R$ 1,5 bilhão.

    O Congresso aprovou, com a chancela do governo, a renegociação da dívida de Estados e municípios. No ano que vem, a conta deve ser de R$ 1 bilhão.

    Esses dinheiros não vão virar superavit nos municípios, claro.

    Há contas atrasadas, ainda obscuras, empurradas com a barriga para que o balanço do governo pareça ainda mais vermelho, esqueletos e caveirinhas no armário.

    Obscuro também é quanto ainda vai custar o rolo com as empresas de energia elétrica. O governo diz que não vai mais bancar a conta dessa confusão, que, em parte, foi ele mesmo que criou. Mas alguém vai pagar.

    Por causa da seca, de mudanças desastradas e de ideias de jerico sobre preços e investimentos, coisas do governo, as distribuidoras de eletricidade têm de comprar energia muito cara e não podem repassar de imediato o custo extra para o consumidor. O governo bancou provisoriamente a diferença e, em seguida, arranjou uma concessão de empréstimos bancários para as distribuidoras (que depois repassarão a conta para as tarifas de energia, com juros, claro). O buraco permanece, porém.

    Mesmo descontado o choro habitual das empresas, a situação é difícil. O governo pode deixar como está para ver como é que fica, arruinando alguém pelo caminho. Pode arrumar um reajuste extraordinário da eletricidade. Pode colocar mais dinheiro nessa bagunça, além do que já deve. Essa conta é de bilhões.

    Dado o tamanho do buraco federal, tudo isso é mais ou menos troco (o deficit total de 2014 deve chegar a uns R$ 260 bilhões, os tais 5% do PIB). Mas o fato de o governo estar catando moedas indica o ponto de imprevidência a que chegou.

    vinicius torres freire

    Está na Folha desde 1991.
    Em sua coluna, aborda temas políticos e econômicos. Escreve de quarta a sexta e aos domingos.

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