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    Vinicius Torres Freire

    As dores de cair na real

    17/12/2014 02h00

    Realismo imediato será o programa básico de Dilma 2, diz gente de qualquer ramo do triunvirato que vai dirigir a política econômica (BC, Fazenda, Planejamento). Ok.

    No caso de a Petrobras chegar perto do bico do corvo, precisar de dinheiro e encontrar portas fechadas no mercado, em 2015, o que os realistas vão fazer? Pôr dinheiro na empresa, fazendo mais dívida?

    Dado o dinheiro que tem no caixa e dados as dívidas vincendas, o investimento planejado e as receitas previstas, a conta da Petrobras não fecha. Será preciso fazer alguma combinação de redução de investimento, aumento de receita (combustível mais caro) ou empréstimo (o crédito da empresa anda ruim).

    Não se explica por ora como o realismo da pindaíba austera vai lidar com um eventual rombo na Petrobras, até porque novos economistas de Dilma dizem que, antes de mais nada, seria preciso dar logo "vida nova" à empresa, em vez de pensar em desastres adicionais. Isso pode incluir medidas como baixar a exigência de conteúdo nacional nas compras da empresa (insumos feitos aqui, muitos deles mais caros, quando não superfaturados) e a obrigação de a empresa entrar em todos os negócios do pré-sal (não tem dinheiro para isso).

    Vender novas ações da empresa ora parece piada, como as do escárnio que escorria nesta terça-feira pelas redes sociais. "Quer seu troco em ação da Petrobras?", diz o caixa do mercado. "Não, prefiro em balas", diz o cliente. "O que vai chegar primeiro a R$ 5: o dólar, o preço do ônibus ou a ação do Petrobras?".

    Enfim, o caso Petrobras tem vários paralelos. A Eletrobras quase quebrada. Os rombos vários no setor elétrico. A conta de subsídios, via BNDES, prometidos às empresas. Haja pragmatismo para convencer Dilma 2 a desmontar Dilma 1. No mais, do que se trata o "realismo". Do básico.

    1) Gastar menos do que se dispõe, bidu;

    2) Não esconder dívidas no armário (esqueletos ou caveirinhas), assumir as que estão debaixo do tapete, não maquiar a contabilidade;

    3) Preços de verdade: tarifas de eletricidade sem subsídios (repassar custos para o consumidor), por exemplo. Aumentar a taxa de juros, a TJLP, dos empréstimos e doações do BNDES a empresas;

    4) Estimativas realistas de crescimento do PIB e de receita de impostos, de juros ou inflação. Isto é, projeções de mercado, acompanhadas de estimativas paralelas do governo, como de resto o faz o BC;

    5) Revisar subsídios e desonerações a fim de verificar se os benefícios dessas políticas, no fundo despesas ("gastos tributários"), foram eficazes pelo menos segundo seus objetivos iniciais. Isto é, ainda tem imposto para aumentar, além dos comentados na praça (IPI, Cide, Imposto de Importação, IOF etc.);

    6) Bancos públicos devem ajustar a concessão de crédito às suas possibilidades e aos riscos maiores de uma economia estagnada, o que de resto é um auxílio ao BC, que talvez assim possa maneirar no juro se a banca estatal maneirar no crédito.

    7) O que o governo não tem tempo, dinheiro ou capacidade de fazer será feito pelo setor privado. "Deu certo em aeroporto e em certas rodovias. Vai ter disso também em porto, setor de gás, internet".

    A presidente já concordou com tudo isso? Mistério.

    vinicius torres freire

    Está na Folha desde 1991.
    Em sua coluna, aborda temas políticos e econômicos. Escreve de quarta a sexta e aos domingos.

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