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    Vinicius Torres Freire

    Dilma espera o Carnaval chegar

    08/02/2015 02h00

    Dilma Rousseff deve estar ansiosa pelos dias de amnésia barulhenta ou retiro do Carnaval, pois seu governo samba na frigideira quente de várias crises. Na folga folgazã, talvez a chapa esfrie.

    A semana que passou oferece uma amostra grátis de problemas que podem desorientar de vez este governo pelo resto do ano. Caso não se aprume, e tomara que se reoriente, esta administração que mal fez um mês pode se enredar numa espiral de crises políticas e econômicas que se realimentam.

    Na semana, houve a debandada da diretoria da Petrobras e o tumulto da nomeação de seu novo presidente, apoteose que provocou um desfile de críticas à presidente da República, entre as quais a de alheamento da realidade.

    Ainda nada se sabe do que Aldemir Bendine fará ou poderá fazer da petroleira. Mas sua indicação para o comando da empresa foi interpretada, na melhor das hipóteses, como a continuação das políticas que levaram a Petrobras à quase asfixia financeira e, ainda, das intervenções equivocadas de Dilma 1 na estatal. Dado o tamanho da crise, tal atitude mostraria quão alheada a presidente está do humor do país, ao menos do da elite que se ocupa dessas coisas e dos credores da Petrobras, para não dizer do governo mesmo.

    Caso se confirme a hipótese de continuidade, prosseguirá a degradação do crédito da companhia, crise que continuaria a se espalhar por empresas dependentes e contaminaria o restante do ânimo da economia. Nesse caso, para nem falar dos rolos político-policiais, aumentaria a impressão de que o governo perdeu o controle da situação, o que, por sua vez, contribuiria para solapar ainda mais o prestígio político da presidente. Figuras fracas ficam sujeitas a abutres.

    O tumulto no setor de petróleo, construção naval, civil e mesmo finanças pode piorar por outros motivos. A nova fase da Lava Jato levanta suspeitas contra mais empresas relevantes, que podem perder crédito e créditos, o que provocaria um dominó de inadimplências.

    A nova CPI da Petrobras é em si mesma um nada. Mas trata-se de um exemplo adicional, como se fosse preciso, da animosidade do Congresso em relação à presidente. Isso à beira da denúncia dos políticos com as mãos sujas do Petrolão. O risco aqui é, literalmente, incalculável, e o governo até agora não mostrou que sabe como administrar a crise.

    Como se não faltasse tensão, fica mais clara a reação defensiva-agressiva do PT ao novo jorro de acusações contra o partido ou ao menos contra seu tesoureiro. O PT começa a adotar posição de combate ruinoso, um tanto à maneira da época do mensalão: dane-se o teor das denúncias, o negócio é salvar o partido, como se fosse possível fazê-lo sem aceitar uma limpa.

    Por fim, o governo Dilma Rousseff começa a pagar a conta da demagogia e de procrastinações eleitoreiras. Para 60% dos brasileiros, a presidente disse mais mentiras do que verdades na campanha. Entre as pessoas com ensino superior, renda maior que dez salários mínimos ou moradores de São Paulo, o descrédito da presidente passa de 70%.

    Seu prestígio passou do nível do chão aonde foi no Junho de 2013. Isso quando ainda mal começam a pesar no dia a dia os efeitos da crise: tarifaço, inflação, impostos e desemprego maior.

    vinicius torres freire

    Está na Folha desde 1991.
    Em sua coluna, aborda temas políticos e econômicos. Escreve de quarta a sexta e aos domingos.

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