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    Vinicius Torres Freire

    O Ano-Novo de Dilma Rousseff

    19/02/2015 02h00

    Diz o dito popular meio disparatado que o ano brasileiro começa no fim do Carnaval. Pelo sim ou pelo não, pois a maioria de nós já vinha trabalhando tanto quanto sempre, não custa dizer: Feliz Ano-Novo, presidente Dilma Rousseff.

    O desastre das três primeiras quinzenas do novo governo ficou no Ano Velho do calendário brasileiro carnavalizado. Mesmo que a presidente tenha perdido poder, ainda é possível mudar o enredo do resto do mandato.

    Para tanto, Dilma Rousseff poderia liderar um programa de reformas, sem aspas, não necessariamente aquelas que estão na algibeira de tanto economista.

    A presidente perdeu poder sobre a economia. Rendeu-se ao desmanche da ruinosa política econômica de Dilma 1, nomeando Joaquim Levy para a Fazenda. Recessão, inflação e a pindaíba do governo privam a presidente de instrumentos de bulir com a economia. Enfim, Dilma não pode mudar de ideia tão cedo, mandando Levy para casa, a não ser que tolere o tumulto subsequente, perto do qual a balbúrdia pré-carnavalesca de Dilma 2 pareceria um bloquinho de sujos.

    A presidente perdeu o poder sobre a política. Perdeu a maioria no Congresso e prestígio popular. Mesmo movimentos sociais governistas e seu partido (PT) fazem beiço para Dilma Rousseff.

    A presidente, no entanto, pode recuperar prestígio nas ruas, colocar certa ordem na casa política e até estimular alguma animação no bloco da economia. Pode mudar o assunto e o tom da conversa do país, tocando reformas de verdade. Dilma 2, ela mesma, prometeu um plano contra a burocracia que arruína a eficiência econômica, por exemplo.

    Qualquer associação empresarial tem um plano assim. Não faltam no país bons administradores, advogados e economistas para consolidá-los. Junte uma comissão de servidores capacitados e, em três meses, leve-se a coisa ao Congresso, embora tanta burocracia possa ser removida a canetadas.

    Seja lá o que se pense deste Congresso, parlamentos raramente são refratários a pressões sociais persistentes e organizadas. Não ficariam imunes a um movimento combinado de empresários, dos menores aos maiores, e governo. A presidente teria "apoio no Congresso", por outras vias, sem necessidade de escambos muito degradantes. É possível imaginar outras reformas "pop" e úteis, que não causem muito conflito sociopolítico. Mesmo dar uma arrumada no enrolado ICMS é possível, caso a presidente se digne a liderar negociações (sim, o pressuposto é precário: "liderar" e ainda "negociar").

    O ministro do Planejamento, Nelson Barbosa, falou em tocar um programa de concessões : vender a empresas privadas o direito de fazer/explorar estradas, portos, aeroportos etc. Aparecer logo com um plano realista, sem esquerdismos juvenis e amadores, faria efeito, mesmo que as condições de implementá-lo apareçam apenas mais adiante. Mas tem de ser grande, sério e rápido.

    Limpar logo a Petrobras seria outro modo de recuperar influência. Dar atenção às destroçadas agências reguladoras também. Nada disso custa, a não ser a renúncia a convicções caducas e a dedicação a fazer política de verdade, agregando aliados na sociedade e, assim, no Congresso, negociando e até fazendo concessões, de sentido e interesse maiores.

    Fica a dica.

    vinicius torres freire

    Está na Folha desde 1991.
    Em sua coluna, aborda temas políticos e econômicos. Escreve de quarta a sexta e aos domingos.

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