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    Vinicius Torres Freire

    Menos pessimismo com a inflação

    12/05/2015 02h00

    A inflação esperada para os próximos 12 meses tem caído desde abril, baixando em um ritmo inédito nos anos Dilma Rousseff. Sim, a tendência tem menos de um mês, tem pouco tempo, tanto quanto um amor juvenil de verão. De resto, expectativas de inflação são tão instáveis quanto sentimentos adolescentes.

    Ainda assim, trata-se de alguma novidade. Alguma, apenas. A centena de economistas ouvida semanalmente pelo Banco Central espera inflação de 5,93% nos próximos 12 meses; de 5,5% em 2016. Ou seja, uma alta do IPCA parecida com a dos cinco anos anteriores a este 2015 ainda mais inflacionado pelo tarifaço de luz, água, combustíveis e transporte.

    Poderia ser pior. Esses economistas poderiam opinar que a inflação ficaria nos mesmos 8,2% de agora ou mais: que haveria descontrole.

    Pode ser melhor. Os chutes informados dos economistas sobre a inflação futura podem continuar a cair. O Banco Central insiste em que a inflação baixa à meta oficial de 4,5% no fim de 2016. Quanto mais rápido o
    IPCA se aproximar da meta, maior a possibilidade de baixa significativa de juros a partir de 2016.

    Não se via baixa tão rápida das expectativas de inflação desde o início de 2009, quando se previa que a recessão a caminho conteria os preços. Ou desde o final de 2006, no meio do caminho de uma desinflação rápida. O IPCA chegara a 8,1% em abril de 2005, caiu para 4,6% em abril de 2006 e baixaria ainda a 3% em abril de 2007, na sequência de uma alta pavorosa de juros (a Selic iria a 19,75% ao ano em maio de 2005; a taxa real de juros, a 13%).

    A história da desinflação de 2005-06 passa a impressão de que seria necessária dose cavalar de juros a fim de anestesiar os preços no mesmo ritmo, um tanto mais agora porque ainda há descrédito na política de combate à inflação (a Selic está em 13,25%; a taxa real de juros em 7,4%, a maior desde 2008). Obviamente, as coisas não são bem assim, entre outros motivos porque a economia brasileira afunda, ao contrário da tendência de meados da década de 2000.

    Vamos viver a maior recessão em mais de 20 anos, queda de até 1,5% do PIB neste primeiro ano de Dilma 2, um desastre padrão Collor. Haverá um corte brutal na despesa do governo, o maior em mais de uma dúzia de anos. O crédito bancário tende ao crescimento zero. Os bancos públicos terão muito menos dinheiro extra para emprestar a juros baratinhos. O desemprego vai aumentar. Os preços mundiais de comida, ferro e petróleo caem. De vento contrário, há a desvalorização do real e o descrédito da política de combate à inflação.

    Depois da década do crescimento, da formalização do emprego, da alta do salário mínimo, de meia dúzia de anos inflação no teto da meta e de tantas outras mudanças, sabemos ainda menos das manhas da economia brasileira. A quanto irá o desemprego nesta recessão? O desemprego adicional terá qual efeito na contenção de preços? A recessão ruim vai evitar o repasse da alta dos "preços em dólar" para os demais preços?

    Quem disser que sabe a resposta dessas contas está dando chutes informados ambiciosos demais. Na dúvida, porém, os chutes eram para cima, até faz pouco. A fim de maneirar os chutões, talvez o BC ainda dê umas caneladas nos juros. Até 14%.

    vinicius torres freire

    Está na Folha desde 1991.
    Em sua coluna, aborda temas políticos e econômicos. Escreve de quarta a sexta e aos domingos.

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