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    Vinicius Torres Freire

    Novas emoções na Petrobras

    20/05/2015 02h00

    Os tombos da ação da Petrobras desta semana são os mais feios desde o início de fevereiro. O preço da ação preferencial da petroleira baixou 8,17% desde segunda-feira, primeiro dia útil depois da publicação do balanço do primeiro trimestre.

    O que houve? Além do Imponderável de Almeida, de especulações inescrutáveis e rumores secretos, os palpites eram os seguintes:

    1) O governo vai cobrar R$ 20 bilhões devidos pela Petrobras em um negócio de 2010; 2) Novas estimativas de queda do preço do petróleo; 3) "Esquisitices" no balanço do primeiro trimestre; 4) Depois de ganhar dinheiro com a alta das ações, estrangeiros as estão vendendo, em especial porque o tempo deu uma mudada no mercado internacional.

    Primeiro: buraco de R$ 20 bilhões. Em 2010, o governo comprou ações da Petrobras com barris de petróleo (cedeu o direito de exploração de 5 bilhões de barris em troca de ações novas da Petrobras).

    Segundo a agência de notícias Bloomberg, o governo teria direito a um pagamento adicional na revisão prevista do preço desse acordo. O extra seria de R$ 20 bilhões.

    É fato que vai haver renegociação entre governo e Petrobras. O resultado disso será conhecido só em 2016, segundo a direção da empresa.

    No Brasil, o ano que vem é o futuro distante do pretérito. Mas, caso o governo morda a Petrobras em R$ 20 bilhões, de uma só vez, vai arrumar problemas para si mesmo. Voltaria a baderna ruinosa, que chegou a suscitar a hipótese de que o governo teria de colocar dinheiro na empresa.

    Segundo: queda do preço do petróleo. "Especulativo, protesto", como se diz em filme americano de tribunal. Pode até ser, embora chutes sobre o preço do barril sejam muito furados para fundamentar um talho tão grande no preço da ação.

    Terceiro: "esquisitices" no balanço. As queixas sobre o balanço não eram hoje diferentes daquelas de ontem ou segunda. De resto, mesmo descontadas as esquisitices conhecidas, o balanço veio melhor do que o esperado pelo "mercado", o Ebitda em particular.

    Dizia-se ontem, outra vez, que o lucro foi vitaminado porque a Petrobras deixou de dar como perdida parte de uma dívida do setor elétrico (reverteu a provisão para perdas de R$ 1,295 bilhão), pois teve mais garantias de que vai receber o dinheiro devido. Mais, que tal valor teria sido lançado de modo impróprio no resultado do primeiro trimestre, pois a garantia foi obtida no segundo trimestre. Parece mais um muxoxo do que uma razão.

    Há dúvidas sobre a política do governo para a empresa (preços, investimentos, venda de ativos, "conteúdo nacional")? Sim.

    Ninguém sabe se o resultado razoável do primeiro trimestre vai se sustentar. Nem se o governo vai tabelar outra vez o preço dos combustíveis, apesar das promessas da direção da petroleira de que tal coisa não vai se repetir.

    Não se sabe se a Petrobras vai torrar mais de seu caixa para investir. Se conseguirá diminuir dívida e custos nos próximos trimestres. Etc. Dúvidas velhas de meses, que de resto dificilmente poderiam ser dirimidas por um balanço trimestral. O que talvez ocorra na divulgação do plano de negócios para os próximos cinco anos, a ser divulgado em junho.

    Enfim, pode ser que os estrangeiros estejam em retirada. Ou o que mais?

    vinicius torres freire

    Está na Folha desde 1991.
    Em sua coluna, aborda temas políticos e econômicos. Escreve de quarta a sexta e aos domingos.

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