• Colunistas

    Saturday, 18-May-2024 13:32:21 -03
    Vinicius Torres Freire

    Perigos do espaço exterior

    11/06/2015 02h00

    Entretidos com a nossa vidinha dura brasileira, com a calma aparente no mundo exterior e de costume indiferentes ao que se passa lá fora, esquecemos das ameaças financeiras e econômicas internacionais ao que restou de paz nesta província.

    O relatório semestral do Banco Mundial, que trata com ênfase da "desaceleração estrutural" nos países em desenvolvimento (como nós), e um piti discreto nos mercados da dívida de país rico bastaram para nos lembrar de que o mundo é um lugar perigoso.

    O Banco Mundial, primo menos antipático do FMI, disse em suma que a queda do preço das commodities, a lentidão do comércio internacional e, em particular, a retração comercial nos principais emergentes lançam o crescimento desses países em um enrosco de anos.

    As taxas de juros que os donos do dinheiro pedem para aceitar títulos da dívida dos Estados Unidos e da Alemanha deram um daqueles saltos nervosos, para o nível mais alto em sete meses, no caso dos papeis americanos. Saltam de níveis teratologicamente baixos, claro, como se sabe, mas não é isso que interessa. Trata-se do enésimo microensaio do retardado ciclo de aumento das taxas de juros no mundo rico, pitis que começaram em grande estilo em meados de 2013.

    A probabilidade de aumento dos juros no mundo rico, a começar pelos americanos, será tanto maior quanto mais certa será a retomada econômica por lá. O pessoal do Banco Mundial acredita que os países ricos vão sair do pântano e voltar a ter mais peso no crescimento mundial, enquanto o mundo em desenvolvimento volta a ratear.

    Ou seja, os emergentes temos três problemas. O Brasil, um a mais. O crescimento da primeira década do século foi favorecido por juros relativamente baixos no mundo rico, crescimento chinês acelerado e expansão do comércio internacional a um ritmo maior que o da economia. Os três estão sob risco de faltar ou já em baixa. No Brasil, de resto, estão estropiados os instrumentos que poderiam atenuar tal crise (baixar juros, elevar o gasto público).

    Além de causar danos por si só, a alta de juros nos EUA e, mais tarde, do fim do relaxamento monetário na Europa e Japão, pode causar os tumultos e chiliques típicos dessas transições.

    Na prática, isso significa menos dinheiro disponível para investimentos em países emergentes, em especial para os mais estropiados, como agora estamos: dólar ainda mais caro, crédito externo mais custoso.

    Tanto já se falou disso que mal se presta atenção a tais riscos, como no início daqueles filmes-catástrofe, em que a vida parece risonha e franca enquanto um asteroide gigante toma a direção da Terra.

    Quando o asteroide passará perto do planeta? O dos juros americanos pode passar em setembro, talvez dezembro. Tanto FMI como Banco Mundial sugerem aos americanos que adiem a alta dos juros, pois a economia americana não estaria assim tão bem das pernas e poderia ser prejudicada pelo rebote de uma crise ainda pior nos emergentes.

    Desde o final dos anos 1990, de crise asiática, russa e argentina-brasileira, não se aventava que os países em desenvolvimento poderiam provocar uma retração econômica mundial. Pois então, se passou a aventar, trate-se de chute ou não.

    vinicius torres freire

    Está na Folha desde 1991.
    Em sua coluna, aborda temas políticos e econômicos. Escreve de quarta a sexta e aos domingos.

    Fale com a Redação - leitor@grupofolha.com.br

    Problemas no aplicativo? - novasplataformas@grupofolha.com.br

    Publicidade

    Folha de S.Paulo 2024