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    Vinicius Torres Freire

    Grécia quebrada, melhor assim

    03/07/2015 02h00

    Os economistas do FMI disseram ontem que a Grécia quebrou de novo, na prática. A dívida seria impagável, ainda que a economia entrasse nos trilhos do acordo que os credores queriam colocar os gregos. O Fundo Monetário Internacional faz parte do comitê central de credores, ao lado de Comissão Europeia ("governo" europeu) e do Banco Central Europeu.

    Logo, sem dinheiro extra e corte da dívida, "não vai ter Grécia" –mais empréstimos e um talho na dívida era o que queria o governo de esquerda do Syriza, mas não levou.

    O relatório do FMI é técnico, sobre a "viabilidade da dívida". Não foi submetido ao conselho do Fundo e menos ainda aos europeus.

    No entanto, o estudo torna ainda mais grotesca a discussão e cada vez mais Fla-Flu do caso grego. Tanto passa um sabão na incompetência e inércia dos governos gregos, no Syriza em particular, quanto avacalha a posição do trio de credores, dos europeus em especial.

    No fim das contas, o relatório dá razão ao que o establishment sensato tem dito sobre o tumulto: a Grécia precisa de uma reforma socioeconômica enorme, e um perdão de dívida enorme.

    Note-se de passagem o quão fantasistas eram os pressupostos econômicos da redução da dívida do governo grego a um nível sustentável, segundo o programa econômico fechado em 2012.

    Seriam necessários superavit primários de 4% a perder de vista. A Grécia voltaria a um padrão de crescimento de médio e longo prazo de 2%, desde que as reformas levassem o crescimento da produtividade grega a um ritmo equivalente ao dos países mais eficientes e avançados da Europa, de quebra com mercado de trabalho com níveis alemães de participação e ocupação. "Então, tá".

    "Não vai ter Grécia" era o que dizia também ontem um manifesto de 246 professores universitários de economia, gregos, caso o país caia fora do euro. Os professores pedem voto no "sim" no plebiscito de domingo, um voto contra o governo do Syriza, na prática, e por uma alguma espécie de armistício com os credores.

    O que dizem esses economistas gregos sobre seu país, caso o país abandone o euro?

    "Consequências de curto prazo: fechamento de bancos, corte no valor dos depósitos, baixa aguda no turismo, escassez de bens de consumo básicos e de matérias primas, mercado negro, hiperinflação, falências de empresas e um grande aumento no desemprego, queda rápida nos salários reais e no valor real das aposentadorias, recessão profunda e problemas sérios no funcionamento do sistema de saúde pública e defesa, agitação social."

    "Consequências de médio prazo: isolamento internacional do país, falta de acesso ao mercado internacional de capitais por vários anos, baixo crescimento e investimento anêmico, desemprego alto com inflação alta, suspensão do fluxo de fundos estruturais da União Europeia, declínio significativo do padrão de vida, oferta precária de bens e serviços públicos."

    Para encerrar o diário da confusão: começou a rachar a coalizão que sustenta o governo grego e contém parlamentares de direita. O Syriza também está rachando. Além de não ter bancos, talvez a Grécia não tenha um governo operacional na segunda-feira.

    vinicius torres freire

    Está na Folha desde 1991.
    Em sua coluna, aborda temas políticos e econômicos. Escreve de quarta a sexta e aos domingos.

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