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    Vinicius Torres Freire

    Levy dobra sua meta política

    14/08/2015 02h00

    O ministro da Fazenda disse em reunião com os maiores banqueiros do país que o governo vai conseguir não apenas poupar o que prometeu em 2016, mas deve mesmo superar a meta de superavit primário.

    Mais importante, porém, foi o sinal extra de que o governo inteiro faz agora o que pode para dizer "não me deixe só", para passar a impressão de que boa parte da elite do país quer "serenidade" e que o "golpismo" é um radicalismo minoritário.

    Até amanhã, sábado, ao menos, terá dado certo. Domingo tem manifestação e segunda-feira ninguém sabe o que será, pois costuma ser dia de prisão da Lava Jato. A semana pode ser de denúncias de políticos do Petrolão —mas, quem sabe, as acusações formais derrubem apenas a turma que ora não se congraça com o Planalto, como o próprio governo tem vazado por aí, de forma suspeita (como é que eles sabem?).

    Quanto à reunião dos banqueiros e ao ajuste fiscal, o assunto é, sim, grave, mas a gente acaba lembrando de um dos mais populares dos discursos convolutos e assintáticos da presidente, aquele de dobrar a meta inexistente que um dia terá sido atingida.

    Dada a frustração absoluta da meta original para este ano, pode até ser que os economistas de Dilma 2 quiçá tenham reduzido suas ambições fiscais de modo exagerado para o ano que vem. Em vez de superavit de 1% do PIB, por aí, neste ano a conta deve fechar no zero. Para 2016, a meta original de poupar 2% do PIB das receitas foi rebaixada para 0,7%.

    No entanto, pode ser que a Fazenda conte com a recuperação de algumas receitas muito frustrantes neste ano, com o fim do efeito negativo do pagamento dos papagaios deixados por Dilma 1 e com a aprovação de restos do ajuste fiscal, dado o novo clima de congraçamento com o Senado, por assim dizer.

    De resto, não houve grande novidade na reunião de terça de Levy. Ou os banqueiros foram mais circunspectos, digamos, ao dar notícias do encontro do que o fazem quando tratam de dinheiro. O ministro falou da união da equipe econômica, de otimismo com o resultado final do trabalho do BC para levar a inflação a 4,5% e "deu apoio" a medidas econômicas da "Agenda Brasil" do PMDB. Reforma do ICMS com repatriação de dinheiros foi um tema; a ênfase na volta da cobrança de imposto sobre folha de pagamento sobre setores desonerados foi outro.

    Pelos relatos dos banqueiros, publicados e ouvidos por este jornalista, há muita boa vontade com Levy. No mínimo, foi essa a mensagem que quiseram passar.

    No mais, sensaborias político-diplomáticas inevitáveis e necessárias no exercício do cargo. Não seria em uma reunião com uma dúzia de pessoas, ainda que banqueiros, de costume pouco falantes, que o ministro falaria de assuntos delicados, de que pode tratar com uma chamada telefônica com qualquer um deles.

    Mais notável foi, enfim, o fato de o ministro juntar, de uma hora para outra, a cúpula da banca, justamente nesta semana de ofensiva "água na fervura" da crise política. Quase no bico do corvo, Dilma Rousseff e seu governo enfim passaram a conversar, em termos políticos, até com banqueiros, escorraçados pela presidente em 2012, como bem se recorda, em sua campanha para baixar juros no grito.

    vinicius torres freire

    Está na Folha desde 1991.
    Em sua coluna, aborda temas políticos e econômicos. Escreve de quarta a sexta e aos domingos.

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