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    Vinicius Torres Freire

    Empresários doam água fria

    16/08/2015 02h00

    Michel Temer, Joaquim Levy e Romero Jucá fizeram mágicas e milagres a fim de salvar Dilma Rousseff de sua mais recente temporada no último círculo do inferno.

    Pelo menos nos últimos dez dias, o trio não só procurou apoio dos donos do dinheiro grosso mas foi procurado por figuras e associações da elite econômica. Um industrial importante diz que "até queríamos alguém para conversar antes. Mas estava difícil, o governo Dilma não tem guichê nem conversa. Tivemos de falar com Temer e mesmo com Sarney".

    Pelo menos desde o discurso do "alguém que reunifique o país", Temer passou a se encontrar ainda mais frequentemente, para não dizer freneticamente, com empresários, além de tentar amansar o Tribunal de Contas da União, que tem nas mãos um dos garrotes de Dilma.

    Muito encontro relevante foi nos finais de semana, em São Paulo. Empresário graúdo foi à procura de Temer, por causa do "clima de intranquilidade do país". E tudo isso foi muito além e diferente das homenagens de Firjan-Fiesp ao vice-presidente, na semana retrasada, quando Dilma estava ao rés do chão.

    Levy tem apoio relevante, embora chamuscado pelos aumentos de impostos, mas desta vez foi além de vender seu plano econômico. Ao levar os banqueiros a uma reunião consigo, em Brasília, contribuiu para criar a impressão, por ora não mais que isso, de que o governo não tinha sido abandonado de vez. Na verdade, um banqueiro que não é do Bradesco e deu peso à reunião de terça-feira vinha dizendo, nas internas, que, embora Dilma Rousseff seja um problema, as "exacerbações" e o "encaminhamento político" da questão não "contribuíam em nada para o país".

    Na sexta-feira, Levy correu para outro abraço da galera empresarial, em São Paulo. Voltou a demonstrar otimismo, coisa que não fazia na primeira fase de vendas do ajuste fiscal, quando parecia querer trocar a ameaça de desastre iminente pela aprovação de seu plano de arrumação das contas.

    O senador Romero Jucá (PMDB), entidade brasiliense sempiterna e líder parlamentar sem fronteiras (de FHC inclusive), arregimentou mais apoio, dada a sua antiga experiência de articular demandas empresariais e projetos de lei. Tudo isso, enfim, teve o "nihil obstat" de Renan Calheiros.

    A Agenda Brasil, um arremedo de programa de Dilma 2 cheio de jabutis de lobbies, o casamento de fomes políticas com vontades de comer empresariais, também hábil e rapidamente costuradas por Jucá. Nessas conversas, porém, o senador não deu vida mansa à presidente. O PMDB-Senado quer "reorientar" o governo, em "estado crítico", dar "previsibilidade" ao empresariado e se mostrar à altura de governar em "qualquer situação", no dizer de um empresário "quase amigo" de Jucá.

    Se o trio agiu de modo concatenado, não foi possível descobrir. Das conversas fica a impressão de que Calheiros e Jucá são agastados com Levy. De qualquer modo, houve um esforço concentrado de pedidos de socorro ao mundo da empresa, que por vezes até chegou de modo próprio a pedir "serenidade" a lideranças políticas.

    Não é nem de longe toda a história da operação água na fervura (por que certas lideranças políticas deram um refresco à presidente?). Mas ajudou a dar sobrevida a Dilma 2.

    vinicius torres freire

    Está na Folha desde 1991.
    Em sua coluna, aborda temas políticos e econômicos. Escreve de quarta a sexta e aos domingos.

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