• Colunistas

    Wednesday, 01-May-2024 23:22:44 -03
    Vinicius Torres Freire

    'Erros', Dilma, 2014 e 2016

    26/08/2015 02h00

    Quando o governo vai mal das pernas e muito mal da cabeça, qualquer escorregão em casca de bananinha ouro dá em tombo feio. Pior ainda quando o pessoal do Planalto despeja bananas no caminho dos colegas, digamos, de governo. Estão embanando Joaquim Levy, ministro da Fazenda, por esporte político, "demarcação de território"; até divergências normais de governo se tornam muito maiores que as de costume.

    O rolo agora se deve à discussão sobre a origem do dinheiro para fechar as contas de 2016 no azul, pois as deste ano já foram para o vinagre. Sem um Orçamento decente para o ano que vem, a credibilidade dos economistas de Dilma 2 vai se esfarelar. Levy quer um plano duradouro e maior de corte de gastos, bidu, caçando receitas via impostos maiores para completar o pacote, se inevitável.

    No Palácio do Planalto dos assessores "políticos" de Dilma, o plano é o inverso. Pior que isso, gente do palácio vaza suas "visões alternativas", o que logo se torna boato que escorre pelas mesas dos rapazes do mercado e por corredores do Congresso.

    Parte dos conflitos é real e evidente, mas há gente que faz questão de enfatizar o quão Levy é "intransigente", "sem tato político", o que redunda em derrotas ou imputações de reveses, tais como ter de pagar a antecipação do "13º" de aposentados e pensionistas. Ou, como ficou evidente ontem, com a promessa de pagamento de meio bilhão de reais em emendas parlamentares, anunciado pelo articulador micropolítico do governo, Eliseu Padilha (PMDB).

    Dadas a intriga e as derrotas reais do ministro, um sumiço devido a uma gripe ou uma visita à filha, reais ou fictícias, dão em boatos, "especulações de mercado" e, mais importante, em descrédito ainda maior que do governo Dilma 2 vá sair uma política econômica capaz de no mínimo evitar desastre ainda maior no curto prazo.

    Levy pretende reduzir despesas obrigatórias, até porque não há alternativa a não ser acabar com o resto do escasso investimento federal (que deve cair de 30% a 40% neste ano) ou aumentar impostos, coisa que o ministro quer evitar ao máximo.

    Aparentemente, não há disputa maior com Nelson Barbosa, ministro do Planejamento. Há oposição no Planalto, no Ministério das Cidades e dos Transportes. Educação deve levar um talho grande também. Embora não esteja claro como tal coisa vá ser feita, a ideia é controlar as despesas da Previdência (pensões?).

    Tais gastos no grosso crescem vegetativamente (mais aposentados etc) e, no caso das aposentadorias, são em dois terços reajustadas pelo aumento do salário mínimo. A não ser em novo caso de revertério radical da presidente, em 2016 o reajuste deve ser de quase 10%, em ano em que a inflação deve cair abaixo de 6% e a receita do governo deve ficar, em termos reais, na mesma, uma encrenca.

    O "ERRO" DE DILMA

    Diga-se o que se quiser dos economistas de Dilma 1. Mas até eles, ou a maioria deles menos um, apresentaram à presidente, antes da metade de 2014, um plano de evitar a derrocada final das finanças federais. Se por mais não fosse (alheamento radical?), Dilma Rousseff sabia, sim, do desastre que provocava.

    vinicius torres freire

    Está na Folha desde 1991.
    Em sua coluna, aborda temas políticos e econômicos. Escreve de quarta a sexta e aos domingos.

    Fale com a Redação - leitor@grupofolha.com.br

    Problemas no aplicativo? - novasplataformas@grupofolha.com.br

    Publicidade

    Folha de S.Paulo 2024