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    Vinicius Torres Freire

    Pode não ser tão ruim

    30/08/2015 02h00

    "Imaginar o inimaginável" não raro passa a impressão de que se vai admitir a possibilidade de um futuro perturbador ou sombrio. No Brasil de 2015, difícil imaginar outra hipótese.

    Mas um economista muito crítico das políticas de Dilma 1 imagina ao menos um cenário em que 2016 não seja tão ruim. Trata-se de Armando Castelar, do Ibre, da FGV do Rio, e da UFRJ, doutor em economia pela Universidade da Califórnia (Berkeley), "liberal", "ortodoxo", na taxonomia polêmica da profissão.

    Há motivos fortes para pessimismo, da conjuntura aos problemas crônicos. Há cenários horríveis, claro. O cenário de "recuperação branda" apenas completa uma tentativa analítica de não ser atropelado no caminho das previsões. O futuro pode chegar por outras vias ou pela contramão. O pessimismo turva a vista para certas possibilidades.

    A recessão deste ano deve ser de 3%. Daí em diante é possível imaginar um caminho de "estabilização com baixo crescimento" até que venha um governo com força política e credibilidade para fazer reformas.

    Qual a hipótese "do bem"?

    Primeiro, o Banco Central tem recuperado credibilidade; a inflação baixa a 4,5% em 2017. As contas do governo são mais transparentes. Com o fim da recessão, lá por dezembro, e juros em baixa a partir do segundo trimestre de 2016, a arrecadação de impostos sai do abismo.

    Segundo, a desvalorização do real e a queda dos salários barateiam a produção doméstica, o que favorece a substituição de bens importados por nacionais e, a seguir, exportações, o que deve ajudar a indústria a sair da recessão profunda de 2014-15. "A indústria não vai ter como sobreviver sem aumentar exportações. A dúvida é se vamos precisar de ainda mais queda do real para que isso aconteça."

    Terceiro, a inflação deve baixar (pelas projeções de mercado, cai de 9,3% em dezembro para 6% em junho de 2016, em termos anuais); no primeiro trimestre, o Banco Central passa a dar sinais de queda de juros. Assim, confiança e investimentos começam a voltar.

    "Taxas de juros mais baixas tornam menos atraente atrasar o pagamento de impostos, e é razoável esperar que os bancos também comecem a afrouxar um pouco as restrições ao crédito, visto que o ganho com títulos [juros] vai começar a cair", argumenta.

    "Obviamente, ajudaria muito deslanchar o programa de concessões [de rodovias, portos, aeroportos] e avançar mais com a reestruturação financeira da Petrobras."

    Os aumentos de impostos podem ter impacto negativo na recuperação? "Por isso creio ser fundamental equacionar a dinâmica explosiva do gasto público e montar um programa de médio prazo de redução do gasto como proporção do PIB. Sem isso, a confiança dos empresários vai custar a se recuperar e nosso crescimento vai continuar medíocre."

    A recessão ainda deve ser de 0,5% em 2016. Parece um otimismo do contra, mas não é bem assim: "Isso se deve basicamente ao carrego estatístico. Trimestre ante trimestre, o PIB deve voltar a mostrar alguma expansão". Ou seja, a sensação térmica da economia deve ser mais confortável do que a medida do termômetro.

    "De qualquer forma, nem nesse cenário mais positivo acredito em expansão brilhante, mas em crescer a uma taxa anualizada de 1% ao ano."

    vinicius torres freire

    Está na Folha desde 1991.
    Em sua coluna, aborda temas políticos e econômicos. Escreve de quarta a sexta e aos domingos.

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