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    Vinicius Torres Freire

    Fica, Levy, vai ter bolo

    04/09/2015 02h00

    Dilma Rousseff vive de um susto e uma corrida. O rumor de que Joaquim Levy caía dentro do buraco ainda maior do Orçamento levou os donos do dinheiro a outra rodada de corte do crédito do governo e do país, que é um outro modo de dizer que taxas de juros e dólar iam às alturas, sem limite, um aperitivo do desastre. A coisa ficou tão tensa e cara que o Tesouro desistiu de pedir dinheiro emprestado (de fazer leilão de títulos) na manhã desta quinta (3).

    Ontem, apagou-se um incêndio na copa. Falta apenas, coisa pouca, provar que se apagou o fogo na cozinha do governo, que diverge sobre o elementar da política econômica, e lidar com o impasse de quem paga a conta do superavit que o governo voltou a prometer. "Movimentos sociais" e "empresariado" não querem pagar nada, o Congresso desconversa.

    O incêndio que a presidente toca semanalmente sob sua cadeira foi controlado ontem. Dilma Rousseff ouviu "apelos" de banqueiros e um empresário. Juntou Levy, Nelson Barbosa e Aloizio Mercadante numa conversa apaziguadora de urgência, pois o ministro tinha viagem marcada para o encontro do G20.

    O pessoal de Levy contava ou "interpretava" que, na reunião, o ministro teria dito que o sucesso da política econômica depende de "unidade" e reforço da ideia de que o superavit fiscal neste ano ainda não "saiu de moda", que esta é a meta e que não pode haver "divergência no governo" a respeito, mas "empenho".

    Dilma além do mais teria reunião à noite com Lula, devido também ao resto da nova rodada de notícias inquietantes, como o relançamento da frente da oposição pelo impeachment e do boato persistente de que parte do PMDB faz arranjos para a sua queda, para preparar outubro, quando o TCU manda para o Congresso o processo das contas do governo em 2014.

    Com tumulto no mercado, o governo fez questão de vazar ainda no início da tarde que Levy ainda estava, sim, no comando de um plano para fazer com que o governo poupe pelo menos o mísero prometido em agosto, em vez de tolerar o rombo anunciado no início da semana. Na quarta-feira (2), a presidente pretendera fazer um "carinho" no ministro da Fazenda, gesto que, no entanto, pareceu um arranhão extra, pois Levy foi tratado quase como "café com leite" da equipe econômica.

    Depois de saltar para quase R$ 3,82 pela manhã, o dólar fechou no zero a zero, a R$ 3,76. O mercado de juros se acalmou um tanto. Estancou-se nova sangria, mas o problema crítico, de fundo, mais novo e imediato permanece: onde arrumar mais de R$ 60 bilhões para cobrir a diferença entre deficit primário de 0,3% (que está no Orçamento provisório de Dilma 2016) e superavit prometido de 0,7%.

    Como se não bastasse o conflito social e político a respeito de aumento de impostos e corte de despesa social, o que será feito das refregas no governo?

    Durante a semana, gente do governo insinuava atrás dos panos uma mudança de rumos, que o plano de ajuste de Levy era um fracasso. Pretendia-se até relaxar o aperto monetário (liberando dinheiro, compulsórios, para que bancos emprestassem mais), o que não faz sentido algum, dada a política do Banco Central, entre outros impulsos de crédito e investimento.

    Esse é o assunto da confusão da próxima quinzena.

    vinicius torres freire

    Está na Folha desde 1991.
    Em sua coluna, aborda temas políticos e econômicos. Escreve de quarta a sexta e aos domingos.

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