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    Vinicius Torres Freire

    Dilma e as invasões bárbaras

    27/09/2015 02h00

    O desastre provocado por Dilma Rousseff ainda não se espalhou por todo e cada canto da economia, embora muito problema já tenha sido encomendado, faltando apenas a entrega. Um pacote-bomba, por exemplo, é a Petrobras —resta apenas saber o tamanho desse presentão oferecido pela presidente.

    Ainda assim, um passeio nem tão aleatório pela economia permite descobrir lugares da "vida cotidiana" que não foram devastados pelo ataque dos hunos, Isto é, a bárbara política econômica de 2011-14. Dá tempo, pouco, de evitar o avanço da ruína.

    Há motivos para se preocupar com o aumento da inadimplência e, talvez, seus efeitos em bancos, tanto mais porque temos recessão garantida pelo menos até meados de 2016. Inadimplência e pagamentos atrasados de empréstimos têm aumentado desde o final de 2014, desacelerando um pouco desde março, por aí. No entanto, estão em níveis bem mais baixos do que os verificados de 2011 a 2013.

    Parte da conta do futuro calote já deve estar no correio, decerto. O desemprego nas maiores metrópoles passou de 5% em agosto de 2014 para 7,6% em agosto passado. O salário médio caiu 3,5% (descontada a inflação). O total dos rendimentos baixou mais de 5%, horror inédito em mais de década. Mas não há indícios de inadimplência descontrolada adiante —por ora.

    A despesa média das famílias com pagamentos de juros e amortização de suas dívidas está em nível alto, 21,9% da renda mensal, porém quase estável desde 2013. Não aparenta disparada (mas, dado o modo como é calculada, a medida não parece muito precisa no curto prazo). Em 2005, quando tal medida começou a ser calculada, o comprometimento da renda com o serviço da dívida era de 16,5%. Na crise anterior, 2008-2009, em torno de 19%. O pior momento foi o final de 2011.

    Isto posto, não convém brincar com fogo. As famílias tentam se desendividar —em um ano caiu quase 5% o total de crédito para pessoas físicas (com taxas livres, em termos reais). Mas os juros estão em alta, a renda, em baixa. Perigo.

    O estoque de patrimônio financeiro das famílias, aplicações em fundos de investimento e poupança, padece, mas não se vê colapso, embora faltem dados consolidados atuais. Dada a disparada de juros de agosto-setembro, pode ter havido ou sobrevir estrago mais feio nos fundos.

    Uma redução acentuada da riqueza financeira das famílias tende a ter impacto adicional na confiança já deprimida e no consumo. De resto, baques em fundos de renda fixa criam problemas para o governo rolar sua dívida (o grosso das aplicações desses fundos são empréstimos para o governo).

    Em agosto, nos total dos fundos havia R$ 2,9 trilhões; na poupança, R$ 645 bilhões (caiu para R$ 641 bilhões na semana passada).

    Nos anos ruins de 2002 e de 2008, o patrimônio líquido dos fundos caiu 18% e 11%, respectivamente. Neste ano, o patrimônio dos fundos mal cresce. Mas não há tombo —por ora.

    Evitar desastres maiores e mais amplos, da Petrobras ao crediário, exige conter a disparada de juros e dólar, para ficar no popular, o que depende de um plano imediato de contenção do aumento da dívida pública, como todo mundo está cansado de ouvir. Não há sinal de tal coisa no horizonte.

    vinicius torres freire

    Está na Folha desde 1991.
    Em sua coluna, aborda temas políticos e econômicos. Escreve de quarta a sexta e aos domingos.

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