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    Vinicius Torres Freire

    Paraguai 18 x 0 Brasil

    24/01/2016 02h00

    DESDE QUE Dilma Rousseff assumiu o governo, o crescimento da renda per capita no Brasil foi ZERO. No Paraguai, de 18%. No rico Chile, 14,5%. Na tumultuada Argentina, 9%.

    Na região, o México é a economia de tamanho mais remotamente comparável à do Brasil, além de dividir conosco a penúltima colocação do campeonato do crescimento latino-americano desde 1990. Pois bem. A partir de 2011, o crescimento mexicano foi de 7%.

    Quem é o lanterna da América Latina no último quarto de século, entre as economias relevantes? Sim, é ela, Miss Venezuela, onde o PIB per capita não difere muito do que era em 1990 (o chavismo não é o único motivo do desastre, pois).

    É possível dourar a pílula do Brasil. Desconte-se o ano da desgraça de 2015, que o dilmismo considera arrebentado pela Lava Jato, pela China e pelo Sobrenatural de Almeida. De 2011 a 2014, o PIB por pessoa do Brasil cresceu 4,7%. No Paraguai, na Bolívia, na Colômbia, no Peru e no Uruguai, uns 17%. No Chile, 13,5%.

    Os números foram calculados com base em estatísticas da Cepal (os dados de 2015 são estimativas, mas devem mudar muito pouco).

    Qual o motivo de outra vez vir com a numeralha comparada? Na semana que passou, a presidente aproveitou a reaparição do fantasma de seu álibi, a crise mundial, para outra vez tentar limpar a barra da política econômica que nos arrastou à lama. Não cola.

    Comparações imediatas de taxas de crescimento são problemáticas, é verdade. Em cada período, o ritmo pode variar devido a características de cada país, como nível de renda, de industrialização, tipo de comércio exterior etc.

    Isto posto, a disparidade recente entre o crescimento do Brasil e o dos países mais relevantes da América Latina é tamanha que é impossível não desconfiar, digamos assim, de que aqui se fez besteira grossa desde 2011.

    A baixa do preço das commodities nos prejudicou, decerto. Mas, no Chile, 52% do valor das exportações vem de cobre e derivados. No Peru, 36% vêm de minérios. Na Colômbia, petróleo e carvão representam mais de 60% das vendas ao exterior etc..

    De resto, todas as economias latino-americanas são mais abertas ao comércio exterior que a do Brasil, exceto a venezuelana (não há dados sobre Cuba e Suriname).

    O Brasil seria então um caso à parte na região, pois a estrutura produtiva é mais avançada?

    Poderia ser. Em geral, países pobres podem crescer mais fácil e rapidamente até atingir um nível de renda média (como a do Brasil), dadas certas condições (industrialização, urbanização, certa ordem política e social etc.).

    Mas tanto países mais ricos como os mais pobres cresceram muito mais que nós. O PIB per capita do Chile é 38% maior que o do Brasil; o do Uruguai, 18% maior. O do Paraguai, a metade. O da Bolívia, 38% do nosso.

    O Brasil teria outra síndrome muito particular de crescimento, "estrutural"? Quem sabe. Mas, de 2003 a 2010, anos Lula, nosso PIB per capita cresceu 24,5%, não muito diferente de Bolívia, Chile, Colômbia ou Paraguai.

    Os alunos excepcionais foram Uruguai (60%) e Peru (47%).

    Quais as estimativas para 2016? Nas previsões dos economistas do Itaú, o México cresce 2,8%. Chile, 2,3%. Colômbia, 2,5%. Peru, 3,8%. Brasil: decresce 2,8%.

    Qual o nome da síndrome brasileira?

    vinicius torres freire

    Está na Folha desde 1991.
    Em sua coluna, aborda temas políticos e econômicos. Escreve de quarta a sexta e aos domingos.

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