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    Vinicius Torres Freire

    O mundo não está contra Dilma

    10/03/2016 02h00

    "Os mercados" estão animados com a probabilidade maior de queda da presidente, diz o lugar-comum da quinzena. É quase certo que estejam animados, óbvio, pois os donos do dinheiro, seus operadores e porta-vozes querem que Dilma Rousseff evapore.

    Muito mais difícil é dizer que os preços nos mercados financeiros subiram porque a aposta na deposição de Dilma Rousseff se tornou em tese mais certeira. Isso tem relevância para pensar o que pode acontecer com o dólar ou com o preço de ações, a quem interessar possa.

    Como um ou outro observador já notou, as altas aconteceram em vários mercados, emergentes ou não. Trata-se de festa um tanto suspeita e, de resto, em parte devida à reversão de excessos especulativos de janeiro. O mundo continua um lugar perigoso, reconhecem bons analistas do esporte financeiro.

    Quanto ao caso brasileiro, alguém poderá dizer que, sem a expectativa aumentada de queda da presidente, o real, as ações e os títulos brasileiros não teriam gás para acompanhar a onda de alegria na praça mundial. Talvez.

    Mas a hipótese não parece muito provável, a julgar pelas andanças históricas dos preços de ativos brasileiros e emergentes. Além disso, administradores de dinheiro que lidam com Brasil e emergentes, gente lá de fora, dizem que não foi bem esse o caso –no mínimo, está longe de ter sido o fator principal.

    Considere-se, por exemplo, as variações do preço do dólar no Brasil e em alguns países que, em geral, reagem de modo assemelhado às mumunhas da finança mundial.

    Desde meados de fevereiro, data do início do "rally" brasileiro, a baixa do dólar no Brasil foi semelhante à registrada no México e na Colômbia. Outras moedas primas, o peso chileno e o dólar australiano, subiram menos, mas andaram juntas também. A tendência foi parecida.

    O que está havendo? Trocando em miúdos grossos, diminuiu temporariamente o pânico com um estouro na China, que faz das tripas coração para conter desaceleração maior da economia e desvalorização de sua moeda. Houve recuperação do preço de commodities.

    O preço do petróleo, por exemplo, subiu uns 50% desde janeiro, para US$ 40. O valor de moedas de emergentes em geral anda de mãos dadas com o preço de commodities.

    Por que o petróleo subiu? Um tanto por reversão das especulações baixistas. Porque Rússia e Arábia Saudita, entre outros menos cotados, meio que combinaram de evitar excesso ainda maior de oferta. Porque a produção cai nos EUA. Porque se especula que o excesso de oferta deva acabar lá pelo final do ano.

    Há ousados que dizem ainda que teriam amainado tendências de mais de dois anos: a fuga de capitais de emergentes devida à recuperação da economia americana e a grande correção, para baixo, do preço das commodities, devida ao baixo crescimento mundial, da China em particular. Baixas maiores seriam menos prováveis.

    São apenas chutes mais ou menos informados, estimativas etc. Há muita gente que acredita em apenas dois meses de calmaria, quando então vai se chutar a bola das finanças para se sabe lá onde.

    Seja como for, "não estamos sós". A finança mundial induziu uma alta por aqui também. Pode-se dizer, de modo sarcástico, que o mundo não está contra Dilma Rousseff.

    vinicius torres freire

    Está na Folha desde 1991.
    Em sua coluna, aborda temas políticos e econômicos. Escreve de quarta a sexta e aos domingos.

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