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    Vinicius Torres Freire

    Saco de gatos contra impeachment

    06/04/2016 02h00

    Nesta noite da política brasileira, há um grande saco de gatos pardos. Lá dentro, bichanos discutem a possibilidade de um acordão que evite o impeachment de Dilma Rousseff, ainda que a presidente seja sacrificada ou reduzida a figura decorativa.

    Faz um mês, discutia-se um parlamentarismo de ocasião. Desde a semana passada, vaza do entorno de Lula e jorra das cercanias de Renan Calheiros a hipótese de uma eleição presidencial de emergência ou conveniência, convindo não se sabe bem ao quê.

    A alternativa talvez seja uma solução para os possíveis efeitos devastadores das novas delações premiadas sobre a chapa Dilma-Temer.

    Calheiros e seu círculo íntimo dizem que nenhuma hipótese de saída da crise deve ser descartada ("Onde fica a saída?", perguntou Alice ao gato que ria. "Depende de para onde você quer ir", respondeu o gato). O presidente do Senado ajudou a inflar a bola da nova eleição logo depois de desmoralizar o desembarque do PMDB liderado por Michel Temer.

    Dilma Rousseff, por sua vez, rebateu a proposta de eleições de modo sarcástico, mas o chute saiu meio torto, para o lado, como se a presidente não rejeitasse inteiramente a ideia. Se entrassem no jogo os mandatos parlamentares, ela aceitaria conversar, disse ontem, meio fazendo troça. Calheiros, porém, aventou a possibilidade de que as eleições sejam gerais, de vereador a presidente.

    Recorde-se ainda que, nas conversas de março entre PMDB e PSDB, senadores dos dois partidos diziam que várias possibilidades do que fazer com Dilma Rousseff ainda estavam "sobre a mesa". A conversa desandou um tanto, como se sabe, até porque foi atropelada pelos efeitos da caçada judicial a Lula. Mas havia gato pardo aí.

    Por ora, não importa muito se a ideia é legal ou politicamente factível; se é golpe, contragolpe ou neogolpe. Também ainda não é um plano. Mas nota-se que há um grupo de gatos pardos e gordos que joga com a possibilidade de um acordão que abra uma porta no beco sem saída que é Dilma Rousseff, que resulte em acerto entre parte do PT e Lula com o PMDB e que, de quebra, afrouxe a corda da Lava Jato.

    Por outro lado, o senador Romero Jucá, bateu ontem em Calheiros. Jucá vai assumir a presidência do PMDB no lugar do licenciado Temer. "Vai para a guerra" no lugar de Temer, que não deve "ficar exposto", diz um pessoal do PMDB: vai bater em Lula, em Dilma e fazer o partido desembarcar de fato. No entorno de Temer se diz que "não há hipótese" de apoiar eleições gerais nem de acordo com Lula-Dilma.

    Ontem, Jucá pregou a derrubada do governo, que tratou de idiota que se afoga no raso. "O governo pegou uma bacia grande, encheu de água, ficou de joelho, botou a cabeça dentro e está morrendo afogado. Se o Brasil se levantar, o Brasil sobrevive. E é isso que o PMDB pretende fazer", disse Jucá.

    Mesmo entre temeristas, diz-se que um terço dos deputados do PMDB ainda está com o governo. A tradicional indecisão, a possibilidade de pagar depois de entregue a mercadoria e o medo de perder essas talvez duas dúzias de votos para o impeachment levaram Dilma a adiar o fechamento do negócio com o PP, por exemplo, já avançado e capaz de solapar o impeachment.

    O jogo e a jogatina ainda não acabaram.

    vinicius torres freire

    Está na Folha desde 1991.
    Em sua coluna, aborda temas políticos e econômicos. Escreve de quarta a sexta e aos domingos.

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