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    Vinicius Torres Freire

    A crise precoce de Temer

    01/06/2016 02h00

    MICHEL TEMER está para declarar em breve apoio incondicional à Lava Jato e à caça aos corruptos, talvez hoje. Vai emendar com uma defesa do congelamento do gasto do governo federal e das mudanças na Previdência.

    No Congresso, a turma que está sob fogo da Lava Jato, principalmente de seu partido ou de aliados do indizível "blocão", ameaça provocar tumulto terminal. Há cheiro de queimado nas reformas econômicas.

    Fora do universo paralelo de Brasília, os povos dos mercados estão inquietos com o tamanho do salseiro no governo e no governismo. O povo de verdade perde emprego em ritmo cada vez mais acelerado, soubemos nesta terça (31) pelo IBGE.

    Por enquanto, Temer nada tem a dizer a essas pessoas. Não é mesmo fácil ter algo a declarar, mas deveria ter pensado no assunto quando decidiu ser presidente.

    A combinação de tumulto renovado na política, de massacre acelerado no trabalho, de finança inquieta e de baixas judiciais no grande empresariado vai triturando a reviravolta na confiança. Isto é, o sentimento de que as coisas poderiam melhorar um tico na economia e na política com a deposição de Dilma.

    O número de pessoas empregadas continua a cair cada vez mais rápido. Em um ano, o país perdeu 1,545 milhão de empregos. Junte-se a isso as pessoas que entraram no mercado de trabalho e a taxa de desemprego, gente que procura serviço e não acha, vai a 11,2% em abril –no primeiro trimestre de 2015, a taxa de desemprego era de 6,8%. O rendimento médio do trabalho agora cai mais de 3%, em termos anuais, descontada a inflação. É um massacre.

    É nesse ambiente social que Temer vai pregar aumento da idade mínima para se aposentar, contenção dos reajustes dos benefícios previdenciários e dos gastos em saúde. Talvez a reforma trabalhista entre no pacote.

    O pacote, ressalte-se, é unidimensional. Não oferece perspectivas de alívio para a massa dos comuns. Nem propõe ao menos medidas de redistribuição de sacrifícios. Talvez o temerismo acredite que se possa passar um trator na maioria mais pobre pelo tempo necessário para se aprovarem mudanças na economia e se sintam os primeiros sinais de fim da crise.

    Talvez até funcione. Mas pode bem ser que a mistura de impopularidade derivada de arrochos variados com a luta imunda pela sobrevivência do pessoal da Lava Jato leve seu governo para o pântano da sarneyzação ou coisa pior.

    Poderia haver a submissão de Temer ao reino do nanicado e da canalha, pois não há lideranças maiores que tentem ou saibam impor um rumo decente a um governo então enfraquecido. No Congresso, a confusão é grande.

    Como se sabe, Eduardo Cunha, o presidente afastado da Câmara, PMDB, ainda está solto. Faz o diabo a fim de evitar a cassação, tem gente dele no governo e ainda parece controlar um bom pedaço do "blocão" de 200 deputados, nanicos de toda espécie, hoje o maior partido do Câmara.

    Ainda não se sabe bem como vão reagir os cardeais da Lava Jato, que voltaram a apanhar e ainda sangrarão muito, com as novas e maciças delações. Que se dedicam de modo cada vez mais selvagem à própria salvação é evidente não apenas nos grampos recentemente vazados. O que falta saber é o que vão tentar cobrar de Temer.

    vinicius torres freire

    Está na Folha desde 1991.
    Em sua coluna, aborda temas políticos e econômicos. Escreve de quarta a sexta e aos domingos.

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