A recessão de 2016 pode ser, enfim, menor que a do ano passado. Praticamente não deve haver efeito no dia a dia de emprego e salário. Mas não se deve desprezar o efeito da percepção de que o desastre será moderado, em um mínimo tanto.
A julgar pelos dados divulgados nesta quarta (1º) pelo IBGE, o encolhimento da economia deve ficar mais próximo de 3% do que de 4%, como se vinha prevendo. No ano passado, a conta do desastre ficou em um PIB 3,8% menor.
Deve ser difícil que nos próximos trimestres o PIB baixe em um ritmo suficiente para um repeteco de 2015. Caso a economia fique estagnada até o final do ano, caso não cresça de um trimestre para o outro, a recessão seria de agora modestos 2,56%, note-se de modo amargamente sarcástico.
As estimativas de piora para o primeiro trimestre estavam exageradas, dada essa primeira prévia do PIB –ainda pode haver revisões. A pior bola fora aconteceu no chute do investimento, na maioria das previsões mais respeitáveis. A despesa com investimento é a fatia mais volátil do PIB.
A despesa em novas instalações produtivas, construções e equipamentos ainda cai de modo horroroso. A fatia da renda nacional (do PIB) destinada a aumentar a capacidade produtiva (o investimento) é agora de apenas 17,5% do PIB, ante 21% em meados de 2013. No entanto, baixou menos no primeiro trimestre (-1,7%), em relação ao final de 2015, ano de colapsos trimestrais enormes, quedas de 3,9% até 7,2%.
É uma tendência? Além de volátil, o investimento é um tanto manhoso. Os ânimos no empresariado vêm subindo de modo modestíssimo desde a virada do ano, mas vêm, e ganharam algum impulso em maio. Caso o programa econômico de Temer não desande (ou o seu governo inteiro não desande), pode haver algumas outras surpresas positivas daqui até o final de segundo ano ainda horrível.
O problema agora está do lado do consumo privado, "consumo das famílias". Rendimentos do trabalho e o crédito ainda recuam em ritmo acelerado. O desemprego deve aumentar até o fim do ano; os maiores bancos ainda não revisaram suas metas reduzidas de volume de empréstimos.
Muito difícil, por ora, chutar de modo informado que vá haver reversão no consumo, portanto. Sim, a confiança do consumidor também convalesce lentamente de um colapso pavoroso. Pode ser que a minoria ainda com renda ou crédito, mas retraída pelo medo, volte a comprar e a se endividar um tanto ou um tico mais. A situação assustadora do mercado de trabalho, ainda de piora progressiva, não suscita muita esperança.
Apesar de todas essas ressalvas, o governo de Michel Temer ganhou um pequeno prêmio de loteria, uma quina da Mega Sena. Sim, em termos anuais, no crescimento acumulado em 12 meses, o declínio do PIB ainda é maior que o verificado em 2015. Sim, "nas ruas" a sensação térmica ainda será por um bom tempo de frio. Ainda assim, a reversão de expectativa de desastre ainda maior é algum alento.
Recessão menor, "vela no fim do túnel" e melhora no ânimo de empresários e consumidores têm em si efeitos positivos, que podem ser amplificados pela confiança em um plano econômico. Desde que o plano pare em pé. Ainda não para.
Está na Folha desde 1991.
Em sua coluna, aborda temas políticos e econômicos. Escreve de quarta a sexta e aos domingos.