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Índice de Confiança do Comércio do Brasil avançou em agosto pelo quarto mês seguido |
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Thursday, 02-May-2024 20:21:17 -03Vinicius Torres Freire
Comércio paulista cresce, mas sinal de vida ainda é 'broto verde'
02/09/2016 02h00
Depois da grande queimada, aparecem raros brotos verdes na terra cinzenta. É capim? Erva daninha? Se é broto de árvore, vai vingar? É a impressão que dá a economia brasileira destas semanas em que o incêndio grande parece diminuir.
O faturamento do comércio de São Paulo cresceu 2,2% em junho, em relação a junho do ano passado, segundo a Fecomercio, a federação empresarial do setor.
Em 15 meses, é apenas a segunda vez que o valor das vendas cresce. Mas a tendência, porém, tem sido de melhora na recessão do setor, que começou no segundo trimestre de 2014. O faturamento chegou a cair 12% em setembro de 2015. Note-se que o comércio paulista é um negócio grande, de R$ 570 bilhões por ano.
Parece até bom demais, dadas as circunstâncias. O desemprego aumenta, o rendimento do trabalho baixa ainda cada vez mais rápido e o total de crédito na economia encolhe. No entanto, a confiança dos consumidores vêm crescendo, lentamente, desde a virada de 2015 para 2016.
O sinal de vida no comércio paulista é um "broto verde", expressão e impressão que tantas vezes foi usada e frustrada nas tentativas de enxergar o fim da recessão americana que começou em 2007-2008?
Parece que é, meio solitário e incerto. Na média, ainda há devastação. O nível geral de vendas do comércio paulista regrediu ao que era em 2010, no período pré-dilmiano. As vendas nas concessionárias de veículos caem 32% em relação ao que se faturava no primeiro semestre de 2012, ano bom de negócios; nas lojas de eletrodomésticos e eletrônicos, caem 34%.
Quanto à devastação no Brasil, basta considerar o resultado do PIB, divulgado na quarta-feira (31). O desalento é tamanho que nos animamos com migalhas.
A produção, o PIB, do segundo trimestre foi ainda 3,8% menor que a do segundo trimestre do ano passado. Mas vinha sendo muito pior: queda de 5,4% no primeiro trimestre, de 5,9% no quarto trimestre de 2015, por ora o fundo do poço.
Há uns outros brotos no país: a construção civil despiora, o investimento dá sinal de vida. Em São Paulo, no segundo trimestre, o Estado cresceu pela primeira vez desde o final de 2014. Porém, a arrecadação de impostos do governo paulista continua em queda dramática, de 8,4% no ano, em termos reais, maior ainda que a federal (7,1%).
Para os economistas da Fecomercio, os dados de junho "...consolidam uma avaliação de que uma reversão do ciclo recessivo é real", embora dependente apenas da melhora da confiança no futuro. Ainda assim, esperam que o ano termine zerado, em vez da queda horrível de mais de 6% em 2015.
Os brotos verdes, se são isso mesmo, dependem da rega de um ajuste fiscal, da baixa de juros e de que se ponha na rua o plano ainda nebuloso de concessões de infraestrutura do governo, cansou-se de se dizer.
Na quarta-feira, o Banco Central deu um sinal apagadinho de que a queda de juros pode começar em outubro, se nada mais der errado, ou pelo menos foi assim que os povos dos mercados e do dinheiro interpretaram o comunicado do BC (juros futuros caíram na praça).
No mais, é esperar que decisões e ações vão sair dessa barafunda em geral lamacenta da política.
Está na Folha desde 1991.
Em sua coluna, aborda temas políticos e econômicos. Escreve de quarta a sexta e aos domingos.Fale com a Redação - leitor@grupofolha.com.br
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