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    Vinicius Torres Freire

    Comércio paulista cresce, mas sinal de vida ainda é 'broto verde'

    02/09/2016 02h00

    Rivaldo Gomes/Folhapress
    Índice de Confiança do Comércio do Brasil avançou em agosto pelo quarto mês seguido
    Índice de Confiança do Comércio do Brasil avançou em agosto pelo quarto mês seguido

    Depois da grande queimada, aparecem raros brotos verdes na terra cinzenta. É capim? Erva daninha? Se é broto de árvore, vai vingar? É a impressão que dá a economia brasileira destas semanas em que o incêndio grande parece diminuir.

    O faturamento do comércio de São Paulo cresceu 2,2% em junho, em relação a junho do ano passado, segundo a Fecomercio, a federação empresarial do setor.

    Em 15 meses, é apenas a segunda vez que o valor das vendas cresce. Mas a tendência, porém, tem sido de melhora na recessão do setor, que começou no segundo trimestre de 2014. O faturamento chegou a cair 12% em setembro de 2015. Note-se que o comércio paulista é um negócio grande, de R$ 570 bilhões por ano.

    Parece até bom demais, dadas as circunstâncias. O desemprego aumenta, o rendimento do trabalho baixa ainda cada vez mais rápido e o total de crédito na economia encolhe. No entanto, a confiança dos consumidores vêm crescendo, lentamente, desde a virada de 2015 para 2016.

    O sinal de vida no comércio paulista é um "broto verde", expressão e impressão que tantas vezes foi usada e frustrada nas tentativas de enxergar o fim da recessão americana que começou em 2007-2008?

    Parece que é, meio solitário e incerto. Na média, ainda há devastação. O nível geral de vendas do comércio paulista regrediu ao que era em 2010, no período pré-dilmiano. As vendas nas concessionárias de veículos caem 32% em relação ao que se faturava no primeiro semestre de 2012, ano bom de negócios; nas lojas de eletrodomésticos e eletrônicos, caem 34%.

    Quanto à devastação no Brasil, basta considerar o resultado do PIB, divulgado na quarta-feira (31). O desalento é tamanho que nos animamos com migalhas.

    A produção, o PIB, do segundo trimestre foi ainda 3,8% menor que a do segundo trimestre do ano passado. Mas vinha sendo muito pior: queda de 5,4% no primeiro trimestre, de 5,9% no quarto trimestre de 2015, por ora o fundo do poço.

    Há uns outros brotos no país: a construção civil despiora, o investimento dá sinal de vida. Em São Paulo, no segundo trimestre, o Estado cresceu pela primeira vez desde o final de 2014. Porém, a arrecadação de impostos do governo paulista continua em queda dramática, de 8,4% no ano, em termos reais, maior ainda que a federal (7,1%).

    Para os economistas da Fecomercio, os dados de junho "...consolidam uma avaliação de que uma reversão do ciclo recessivo é real", embora dependente apenas da melhora da confiança no futuro. Ainda assim, esperam que o ano termine zerado, em vez da queda horrível de mais de 6% em 2015.

    Os brotos verdes, se são isso mesmo, dependem da rega de um ajuste fiscal, da baixa de juros e de que se ponha na rua o plano ainda nebuloso de concessões de infraestrutura do governo, cansou-se de se dizer.

    Na quarta-feira, o Banco Central deu um sinal apagadinho de que a queda de juros pode começar em outubro, se nada mais der errado, ou pelo menos foi assim que os povos dos mercados e do dinheiro interpretaram o comunicado do BC (juros futuros caíram na praça).

    No mais, é esperar que decisões e ações vão sair dessa barafunda em geral lamacenta da política.

    vinicius torres freire

    Está na Folha desde 1991.
    Em sua coluna, aborda temas políticos e econômicos. Escreve de quarta a sexta e aos domingos.

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