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    Vinicius Torres Freire

    Fim da recessão sem fim

    09/09/2016 02h00

    Myke Sena/FramePhoto/Folhapress
    Temer conversa com o ministro Henrique Meirelles (Fazenda) durante encontro com confederações comerciais e empresariais, no Planalto
    O ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, e o presidente Michel Temer

    Então é Natal. Antes de começar a primavera, a gente passa a ler que o fim da recessão está próximo. Pelo menos, que a economia volta a crescer neste trimestre final do ano.

    Ainda que venha a ser verdade, tomara, nenhuma comissão econômica que se ocupe de declarar fins e começos de ruínas dirá que a recessão teria terminado neste último trimestre do ano.

    Menos ainda os trabalhadores, pelos mesmos motivos.

    O medo e o fato terrível de ficar sem trabalho ainda vão perdurar. O desemprego talvez pare de crescer em meados do ano que vem.

    "No terceiro trimestre, ainda esperamos nova retração do PIB. Para o quarto trimestre, os indicadores antecedentes e fundamentos sugerem uma alta, marcando o fim da recessão", escreviam nesta quinta (8) economistas do Itaú, em relatório de revisão de estimativas.

    Estimaram que o PIB encolha algo menos neste 2016 (3,2% em vez de 3,5%) e cresça mais em 2017 (2%, em vez de 1% da projeção anterior). A taxa de desemprego seria menor que em dezembro deste ano, embora ainda em horrendos 12,2% ao final de 2017 (está em 11,6%).

    Os economistas dos dois maiores bancos privados do país, Bradesco e Itaú, faz tempo estão entre os mais otimistas da praça. O Bradesco prevê crescimento de 1,5% em 2017 e de 3% tanto em 2018 quanto em 2019. O Itaú prevê 4% em 2018 e 2019.

    As favas, porém, terão de ser descontadas caso não se aprove o plano de contenção de gastos federais, bidu. Ou seja, pelo menos: 1) Despesas congeladas por quase uma década; 2) Mudanças na Previdência do setor privado: idade mínima de 65 anos e piso previdenciário desvinculado do salário mínimo.

    O que será aprovado é mistério, ainda mais que o governo engorda seu pacote com uma "reforma trabalhista e sua coalizão desconversa: quer dar jeitinho. Além do mais, o programa econômico foi proposto sem plano de redistribuição de perdas.

    Dilma Rousseff quebrou o governo federal também por subsidiar grandes empresas com capital barato e por baixar impostos. Cobrar menos impostos de empresas em tese é boa coisa. Melhor tributar renda e patrimônio, o que Dilma não fez. Fez dívida, enriquecendo os ricos.

    Michel Temer chegou ao poder com o programa de não bulir nos impostos. A conta do ajuste econômico vai sendo paga na base de redução de salários reais, como de costume e em parte inevitável, mas sem contrapartidas. Ao contrário. Espera-se que o povo fique quieto.

    Mudança nas leis do trabalho são muito necessárias. Quais, porém? A reforma pode ser um avanço ou mera rapina de trabalhadores sem poder de organização ou barganha individual. Politicamente, de resto, podem embolar o meio de campo, das "ruas" ao Congresso.

    Parlamentares, a maioria de regiões mais pobres, tendem a ser muito sensíveis ao corte direto de benefícios de seus eleitorados: Previdência, assistência social, saúde. Querem, pois, emendar e diluir o "teto" de gastos federais. Mas podem deixar passar uma reforma trabalhista mal pensada ou até abutre. Ou trocar uma reforma pela outra.

    O essencial, porém, para conter o desastre econômico é o pacote fiscal, de gastos. Disso dependem a sobrevivência dos brotos de otimismo, o corte de juro, a perspectiva de contenção do desemprego: o fim da recessão.

    vinicius torres freire

    Está na Folha desde 1991.
    Em sua coluna, aborda temas políticos e econômicos. Escreve de quarta a sexta e aos domingos.

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