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    Vinicius Torres Freire

    Prisão de Cunha renova temor de instabilidade do governo Temer

    20/10/2016 02h00

    Pedro Ladeira/Folhapress
    Preso, o ex-deputado Eduardo Cunha é levado até o avião da Polícia Federal
    Preso, o ex-deputado Eduardo Cunha é levado até avião da Polícia Federal

    A prisão de Eduardo Cunha suscitou conversa óbvia sobre a estabilidade de Michel Temer. De imediato, sobre a possibilidade de encrenca maior na aprovação de leis em tese dedicadas a dar um jeito na economia deprimida.

    Pelo menos até esta semana, a conversa mais urgente era outra no Congresso: recompensas imediatas pelo voto nas "reformas".

    De resto, nos governismos, de Brasília aos donos do dinheiro grande, espera-se que a coalizão temeriana resista ao menos até "entregar" as mudanças essenciais, "teto" e Previdência, lá por agosto de 2017.

    Essa interpretação sobre o cronograma político-policial pode ser otimista (leia-se a respeito a seguir).

    Na média da casta parlamentar, a queixa atual e desconfortável para Temer é que o governo cobrou muito (pela aprovação maciça do "teto"), prometeu pouco e entregou ainda menos cargos, emendas etc.

    Outro problema tido como emergente é o início da disputa pelo comando das casas do Congresso, que muda no início de 2017, que poderia "rachar a base".

    As tratativas ainda tateantes contra os avanços de Justiça, polícia e delações são o ruído contínuo de fundo no Parlamento. Mas, na interpretação de veteranos congressistas, um ora no Planalto, outros no Congresso, isso não seria por enquanto empecilho à votação das "reformas", que vão aliás passando em marcha acelerada.

    No entanto, apesar do caráter sensacional do caso Cunha, haverá encontros marcados mais precoces com a confusão político-policial. Trata-se, claro, da delação monstro da Odebrecht.

    Adiado desde agosto, o escândalo deve explodir entre a votação do "teto" e do início previsto da tramitação da reforma da Previdência, em si mesma uma guerra civil socioeconômica.

    Por sua vez, o efeito mais mortífero do caso Cunha ficaria para depois da aprovação de uma reforma da Previdência, até meados de 2017, segundo o cronograma governista.

    Parece otimista. É uma incógnita o efeito prático da nova onda de delações sobre as tramitações do Congresso. Menos incerta será a impressão causada por mais cabeças do governo cortadas e espetadas nas estacas de delações. De um governo ainda muito impopular.

    É improvável que eventual melhora da economia, até meados de 2017, faça efeito nas "ruas", no emprego. Mesmo no conjunto abstrato medido pelo PIB, a melhoria será lenta, se tanto. Ontem, ao anunciar o corte mínimo das taxas de juros, o Banco Central pediu mais "reformas" em troca de menos juros.

    Pode até ser que o "bloco de poder" temeriano, do Congresso a elites econômicas relevantes, mantenha-se coeso até que se "entregue o essencial", "teto" e Previdência, não importam as baixas nas tropas, excetuado o caso de revolta "nas ruas".

    Mas essa história não leva em conta como as crises econômica e política-policial vão afetar a articulação de grupos e partidos políticos para a eleição de 2018. Como tal desarranjo pode afetar a votação das ditas reformas, as ora "essenciais" e seguintes. Ou como o medo crescente de cadeia no Congresso pode coagular em uma reivindicação "classista" e paralisante de dar um jeito no problema.

    O governismo parece seguro de que vai "entregar o essencial" até o meião de 2017. O resto, "se vê depois".

    vinicius torres freire

    Está na Folha desde 1991.
    Em sua coluna, aborda temas políticos e econômicos. Escreve de quarta a sexta e aos domingos.

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