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    Vinicius Torres Freire

    Elites acham que plano Temer sobrevive, apesar de crise política e policial

    23/10/2016 02h00

    Interessados na sobrevida de Michel Temer e de seu programa econômico parecem resignados quanto às durezas do caminho até 2018, mas crentes no sucesso relativo do governo.

    Não haveria o que fazer quanto ao corte de cabeça na crise político-policial, não haveria alternativa aceitável às "reformas" ou tempo para encaminhar troca de presidente.

    Haverá conflitos na Praça dos Três Poderes, prisões e denúncias que transformarão líderes políticos em zumbis, mas há crença em uma fuga para a frente inevitável: não há alternativa.

    Esse resumo da opereta não resulta de uma enquete. É o que se depreende de algumas conversas no Congresso e Planalto, com porta-vozes do dinheiro e palpites de consultorias políticas e econômicas.

    O presidente não pode renunciar ao único apoio social forte que tem, empresários e outros donos do dinheiro. Essa elite fez questão de demonstrar estima e consideração pelo plano Temer naquele manifesto publicitário pela aprovação do "teto".

    Essa comunhão reformista improvisada não vê alternativa a não ser apoiar e cobrar Temer nessa "janela de oportunidade que iria até o final de 2017: por um ajuste duro, sem impostos, que garanta "teto" e reforma da Previdência.

    Seria o modo de dar estabilidade econômica mínima ao país, uma plataforma de onde poderiam saltar candidaturas reformistas mais autênticas em 2018. Essa comunhão acabaria por amarrar PMBD e PSDB.
    É um resumo precário de opiniões talvez envelhecidas pelos acontecimentos da semana que passou.

    Quanto à economia, ficou ainda mais claro que faltam pernas no plano Temer, que não tem meios no curto prazo de reavivar a atividade, motivo de tensão social para 2017. Quanto à política-politiqueira, o caldo turvou uma semana depois da maciça vitória de Temer na votação do "teto".

    Nem se tratou de Eduardo Cunha, ainda, rolo para 2017. Renan Calheiros pisou no primeiro degrau do cadafalso, dadas a batida no Senado e delações. As acusações vêm da Transpetro, a mesma zona da Lava Jato que abateu o senador Romero Jucá do ministério. Nem começou a escorrer o veneno da Odebrecht.

    Calheiros e Jucá são das figuras mais capazes da articulação política. Feridos, podem ser um problema para Temer na organização parlamentar, entre outras costuras.

    Mas faz tempo os dois "fogem para frente", "vida que segue", como aliás tanta gente no Congresso. Não agem como Cunha. De resto, delações podem ser desmoralizantes, quase fatais, mas a conclusão de processos leva anos.

    Conflitos previstos ainda não se configuraram de modo explosivo, se é que vão sê-lo, tais como as divisões do governismo na disputa pelas presidências de Câmara e Senado.

    A reforma política que a cúpula do Congresso quer tocar a partir de novembro pode ser um complicador. Partidos menores começam a se insurgir contra o enxugamento de legendas; se queixam muito de que Temer "paga pouco" pelos votos.

    Pode haver mais ruído, como revides de Calheiros contra o ministro da Justiça e tentativa de aprovar a reforma da Lei de Abuso da Autoridade, tida por juízes e procuradores como ameaça a sua independência e à Lava Jato.
    Mas, aos trancos e barrancos, a comunhão pró-Temer acha que chega até 2018. "Não há alternativa". Dizem.

    vinicius torres freire

    Está na Folha desde 1991.
    Em sua coluna, aborda temas políticos e econômicos. Escreve de quarta a sexta e aos domingos.

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