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    Vinicius Torres Freire

    Temer tem saudade de Hillary

    13/11/2016 02h00

    Andrew Harnik/Associated Press
    Hillary Clinton em discurso após derrota: efeito Trump deve retardar a retomada da economia brasileira
    Hillary Clinton em discurso após derrota: efeito Trump deve retardar a retomada da economia brasileira

    Os economistas de Michel Temer não acreditam mais que o Brasil cresça no ritmo que previam quando fizeram o Orçamento de 2017.

    O que não dizem é como esperam fechar as contas do governo dentro do limite previsto de deficit. Tal esperança deve diminuir se o caldo laranja de Donald Trump entornar sobre o Brasil, diminuindo ainda mais o crescimento e, assim, a receita de impostos.

    A crise estendida talvez aumente a ira social, atiçada além do mais pela ruína de alguns Estados. O projeto da reforma da Previdência não deve melhorar os ânimos.

    Como se não bastasse, há tumulto adicional no Congresso, conflitos engatilhados entre Legislativo e Judiciário e a ameaça do grande dilúvio da delação da Odebrecht.

    Não está fácil.

    Os economistas do governo previam alta de 1,6% do PIB em 2017 e receitas aumentando em ritmo ainda mais rápido. Mesmo que esse otimismo se tornasse verdade, ainda faltaria algum dinheiro para evitar deficit maior do que o previsto.

    Agora, o pessoal do governo fala em crescimento de 1%. Nessa conta não entra o efeito que a reviravolta nos EUA pode causar no Brasil —no mínimo, o efeito Trump deve retardar a retomada da economia. Menos crescimento, menos receita ainda. Mais deficit.

    Há quem diga no Planalto que a aprovação de "reformas", de limpezas no entulho burocrático que emperra negócios e a perspectiva de privatizações deve manter o ânimo de recuperação econômica.

    No mundo real, quase não há estímulo visível (consumo, crédito, investimento, exportações) que empurre a economia para a frente afora uma redução de juros mais rápida. Mas a baixa dos juros ficou ainda mais sub judice, dado o tumulto trumpista.

    Ainda é um incógnita se, apesar de todos os tumultos, o Congresso vai continuar no ritmo impressionante em que vinha aprovando mudanças, não apenas a PEC do Teto. Até aqui, porém, tratava-se de assuntos incompreensíveis para a massa das pessoas. A facada da reforma da Previdência é outra história.

    Além dessa tarefa ingrata, o Congresso está entretido em outros conflitos e mumunhas.

    Os parlamentares estão obcecados em aprovar anistias para si, para parte do governo e para empresários da mãe de todas as corrupções. O projeto é de interesse não apenas de máfias empreiteiras, mas de toda a casta empresarial-estatista. De resto, está ficando mais feia a disputa pela presidência da Câmara. O clima não está bom.

    O Congresso pretende ainda virar do avesso e em alguns casos até melhorar o pacote anticorrupção defendido pelo comitê de salvação pública, vulgo comando da Lava Jato. A ideia de colocar certos limites a excessos de procuradores e juízes é uma dessas melhorias —por exemplo, é inaceitável a falação sobre processos, falação de resto cada vez mais politizada.

    Bom ou não, isso azeda a relação entre partes do Judiciário e o Legislativo. Que não vai melhorar com o plano senatorial de dar cabo ao vexame repulsivo dos salários acima do teto legal. A ideia é sanear todos os Poderes, mas a casta judiciária está em polvorosa.

    Resumo da ópera, há dificuldades novas e em várias frentes, entrelaçadas. Não é um vaticínio de fracasso. É apenas um anúncio de nevoeiro adiante.

    vinicius torres freire

    Está na Folha desde 1991.
    Em sua coluna, aborda temas políticos e econômicos. Escreve de quarta a sexta e aos domingos.

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