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    Vinicius Torres Freire

    Falido, fedido e com juros altos

    30/11/2016 02h00

    Alan Marques/Folhapress
    BRASÍLIA, DF, 27.11.2016: TEMER-DF - Coletiva de imprensa com o Presidente da República Michel Temer, Presidente do Senado Renan Calheiros e o Presidente da Câmara dos Deputados Rodrigo Maia, com jornalistas, na tarde deste domingo, no Palácio do Planalto. (Foto: Alan Marques/Folhapress) PODER
    Michel Temer, Renan Calheiros e Rodrigo Maia em coletiva no Palácio do Planalto

    O governo Temer e os fugitivos da polícia no Congresso decidiram manter as taxas de juros no alto, baixando ainda mais o nível da política. Contribuem para prolongar a recessão.

    Como assim? Governo e Congresso definem taxas de juros? Não propriamente. O patrocínio de lambanças colabora para disseminar a percepção de que a pinguela para o futuro, o governo Temer, corre o risco de se tornar inoperante. Que não consiga nem ao menos estabilizar um país em estado crítico.

    Quanto maior o risco de o tumulto político criar mais desordem econômica, maiores as taxas de juros: maior o temor de emprestar e investir. É óbvio, mas não no mundo zumbi de Brasília.

    Note-se que nem está em discussão o teor das lambanças, mas apenas seu preço. Observe-se ainda que "pinguela" foi o apelido dado por Fernando Henrique Cardoso ao governo, corruptela do nome do programa ultraliberal lançado por Michel Temer faz mais de um ano, o "Ponte para o Futuro".

    As taxas de juros deram um pulo extra para cima desde o terço final de outubro, na verdade. Foi quando o Banco Central induziu os donos do dinheiro a desistir das apostas de desaperto monetário mais rápido. Ganharam apoio para flutuar na estratosfera com a eleição de Trump. A poluição que sobe de Brasília dá mais gás para os juros.

    A poeira imunda pode baixar, desde que ministros e parlamentares parem de cavar túneis para escapar da Justiça. Desde que não causem mais revolta popular.

    O sistema político está "falido" e "fedido", como disse ontem Renan Calheiros, expert no assunto. Mas, caso a fedentina não leve o povo para as ruas, o sistema talvez seja tolerado em sua forma zumbi operante, aprovando as reformas de consenso na elite.

    Como disse FHC, é uma "pinguela", mas "é o que tem". "É o que temos" é o que se ouve de cada banqueiro e empresário maiores a quem se pede opinião sobre o governo.

    O sucesso desse acordo tácito entre elite econômica e zumbis fedidos depende também, ora vejam, da realidade. A economia não embicou para baixo de novo, mas ainda não sai do lodo do fundo do poço (francamente, não dá para dizer se sobe ou se desce). Mas o desemprego cresce ainda cada vez mais rápido.

    Não há estímulo à vista que não a queda dos juros, por ora nada estimulante, como se viu. Torna-se a cada mês mais incrível a redução do deficit federal no ano que vem, pois a receita de impostos não reage, em queda real de mais de 7% ao ano desde maio (o governo espera aumento real de uns 5% em 2017).

    O deficit desesperador de enorme e juros muito altos levam até economistas "liberais" respeitáveis e em geral fleumáticos a sugerir altas de impostos para apressar o ajuste fiscal e o desaperto monetário.

    No mais, preocupado talvez com investimentos imobiliários, o governo não consegue colocar para andar seu programa de concessões e privatizações. Aprovou mudanças importantes no Congresso, reforma estatais e bancos públicos, é verdade. Mas, no curto prazo, esses consertos apenas evitam pioras. Não tiram a economia da catatonia.

    O governo Temer e o Congresso têm de se render, sem condições. Haverá cadeia para muitos, mas nem todos. Mas todos ficarão enroscados se causarem mais tumulto.

    vinicius torres freire

    Está na Folha desde 1991.
    Em sua coluna, aborda temas políticos e econômicos. Escreve de quarta a sexta e aos domingos.

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