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    Vinicius Torres Freire

    A cabeça de Temer e o PSDB

    04/12/2016 02h00

    Pedro Ladeira - 27.abr.2016/Folhapress
    Temer, se reúne com o presidente do senado, Renan Calheiros, e o presidente do PSDB, Aécio Neves
    Michel Temer e os presidentes do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), e do PSDB, Aécio Neves (MG)

    Recaída foi o assunto da semana. A recaída da economia em ritmo acelerado de recessão. A recaída na crise política aguda. A recaída de um presidente, pois se discute de modo aberto se Michel Temer resistirá no cargo.

    Quanto ao destino de Temer e da crise política, que não é apenas do governo, a conversa se concentrou na atitude do PSDB, o que não é lá trivial, pois há mais times no jogo (o que faria o PMDB? Qual seria o preço do Centrão?). Mas assim foi.

    Geraldo Alckmin, Aécio Neves e FHC declararam em público ou nem tanto, mas para quem quisesse ouvir, que estão fechados com Temer. Mais ainda, que vão ajudar a remendar a economia de modo a evitar que o país não chegue mais arrebentado em 2019, primeiro ano do próximo governo.

    PSDB e PMDB estão unidos, pois, até que a morte os separe. Mortal seria ver Temer e seu grupo atingidos em cheio pela Lava Jato, um tumulto terminal nas ruas ou uma recaída caótica no pior da recessão, dizem tucanos. Como ver tais coisas? Não dá. Há um nevoeiro na ponte para o futuro até 2017, que talvez não se dissipe antes do Carnaval de 2017, antes de março, no mínimo.

    Cruzar os braços até lá sem se afastar de Temer implica o risco de naufragar com o presidente. O grupo de Aécio se anima a recompor o governo, não apenas substituindo as cabeças cortadas do grupo do presidente, as de hoje (Geddel Vieira Lima) ou de amanhã (Eliseu Padilha).

    Pretende levar assessores, economistas em particular, para ajudar no remendo. Além do mais, está "de bem" com os PMDBs de Câmara e, ainda mais, Senado. Renan Calheiros sabe que a casa cai sem o PSDB e tem dito tal coisa a Temer –tudo sempre segundo tucanos, claro.

    Esses tucanos e gente ligada a FHC não acreditariam mais na "solução TSE" (condenação da chapa Dilma-Temer e convocação de eleição indireta), "a princípio". Alckmin, correndo por fora da cozinha do governo Temer, concorda, sem maiores compromissos.

    Em suma, seria melhor deixar Temer e o PMDB na linha de frente do tiroteio da impopularidade e trabalhar na retaguarda, sem assumir o governo

    O que fazer para remendar a economia? Acelerar as "reformas" no Congresso ("teto", Previdência), acelerar privatizações e concessões de infraestrutura, o de sempre.

    De imediato? Dar um jeito no endividamento das empresas. Ao menos um economista na Fazenda, ao menos um no BNDES e seus amigos na academia ou em bancos acham que empresas poderiam estar produzindo mais se não estivessem estranguladas até no capital de giro.

    Haveria já mais demanda do que produção. Faltaria um dinheirinho para refazer estoques. Seria um estímulo pequeno, mas que poderia barrar a onda de desânimo e outra recaída em ritmo acelerado de recessão. De onde viria o dinheiro? Resta apenas o BNDES.

    Impostos ou reoneração não são ideias bem aceitas, "por ora": afetam consumo, investimento, inflação. Melhor seria buscar logo receita de privatizações e concessões a fim de abater o deficit.

    Esses economistas estão assustados, mas acham que há uma onda de ansiedade. Que 2017 não está dado e que, apesar do surto de pessimismo, ainda há "dispersão nas boas previsões" (de estagnação a crescimento de 1,5% no ano que vem).

    vinicius torres freire

    Está na Folha desde 1991.
    Em sua coluna, aborda temas políticos e econômicos. Escreve de quarta a sexta e aos domingos.

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