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    Vinicius Torres Freire

    Governo vai à luta no lixão

    14/12/2016 02h00

    O balde de poder de Temer vazava ontem por mais furos e deve levar um chute nos próximos dias, com a delação de Marcelo Odebrecht.

    Mas ainda se aguenta. Vai tentar dar o troco no vazamento de delações, com apoio de PMDB e PSDB, o que não é uma ideia pragmática. Renan Calheiros não está sozinho no combate.

    O pacotinho econômico deve oferecer rolhas ao governo, mas de calibre pequeno para os rombos do prestígio presidencial. Se o governo não ruir, porém, não será irrelevante.

    O mercado permanece imperturbável diante do salseiro político e social. Juros caem ou ficam na mesma, o dólar cai. Paz no exterior, preços de liquidação aqui dentro e fé nas "reformas" explicariam a calmaria, segundo banqueiros que estavam no almoço de fim de ano da Febraban, a federação dos bancos, na segunda-feira (12).

    Há desordem dentro da casa política de Temer, embora o governo continue aprovando uma esteira de projetos importantes no Congresso, goste-se ou deteste-se.

    A PEC do teto de gastos federais foi aprovada, mas o governo perdeu votos governistas, no Senado.

    Ronaldo Caiado, senador do DEM, quiçá presidenciável, sugeriu nesta terça-feira (13), sem mais, que Temer poderia fazer a gentileza de renunciar; que aprova eleições diretas. Tem mais gente no DEM querendo ver se essa história cola. Uma espécie de "pesquisa de mercado".

    O centrão continua a chantagear o governo em troca de neutralidade na disputa pela presidência da Câmara, ambicionada com argumentos de tapetão por Rodrigo Maia (DEM), que jamais rima com solução. Por causa das mumunhas da disputa, o centrão ameaça melar a reforma da Previdência, entre outros votos, e bloqueia o quarto ministério do PSDB, a Secretaria de Governo.

    Gente do confuso PSB ameaça desembarcar.

    Renan Calheiros (PMDB), Supremo Senador Federal, por ora, continua a atirar na Justiça e no Ministério Público, atiçando mais ira "nas ruas", onde nesta terça havia tumultos e depredações localizados, protestos contra a PEC do Teto.

    Enquanto isso, pingam e vão pingar medidas de reparos e remendos na economia. O BNDES anunciou refinanciamento de até R$ 10 bilhões para empresas micro, pequenas e médias encalacradas, a taxas maiores que as dos empréstimos originais, mas com prazo maior, para mais empresas. Não é coisa do "pacote", mas atitude de quase qualquer banco que não quer ver clientes na forca.

    Mas no governo se matuta como Banco do Brasil e Caixa podem entrar na dança, embora esses bancos estejam no limite, sem meios de dar mais crédito ou engolir perdas.

    Pode haver mesmo o saque do FGTS para pagamentos de dívidas, R$ 1.000 por trabalhador, até R$ 30 bilhões. A medida parece aliviar mais a taxa de inadimplência de bancos do que a capacidade de consumo (e pouco), tirando fundos emprestáveis do FGTS.

    Pode vir um refinanciamento de dívidas de empresas com o governo, grande lobby do momento.

    O pessoal "técnico" (economistas) quer anunciar medidas de redução de burocracias para empresas, redução das exigências de conteúdo nacional em equipamentos de petróleo e, mais ambicioso, mudanças nas leis trabalhistas, segundo maior lobby do momento. Mas tudo isso demora a funcionar.

    Tempo é poder.

    vinicius torres freire

    Está na Folha desde 1991.
    Em sua coluna, aborda temas políticos e econômicos. Escreve de quarta a sexta e aos domingos.

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