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    Vinicius Torres Freire

    Temer foge para a frente

    22/12/2016 02h00

    O governo está entre bêbado e equilibrista. Tropeça na política, talvez sobreviva na Justiça apoiado em um acordão precário e, a fim de evitar a queda, dá saltos adiante, com a promessa de mais e imediatas reformas.

    O anúncio de reforma trabalhista talvez por decreto é um desses pulos. Michel Temer procura manter o apoio de parte relevante da elite econômica, que o "elegeu" com base no programa "Ponte para o Futuro".

    O desânimo com o crescimento que não vem, no que, aliás, Temer não tem culpa alguma, ao contrário, aumentou a impaciência com o que gente de peso considera "lerdeza" nas reformas. A mudança na Previdência teria sido protelada demais; na trabalhista, teria havia recuo, por exemplo.

    Temer é um vetor das reformas, para os donos do dinheiro grosso. É um anteparo para quem quer assumir governo e país "saneados" em 2019, o PSDB, por exemplo, eminência parda do governo, com pretensões de ficar colorida.

    O destino do presidente parece cada vez mais depender de um arranjo, de um acordo tácito entre gente dos três Poderes e de poderes de fora de Brasília. Talvez fique para meados de 2017 o julgamento da chapa Dilma-Temer 2014, no TSE.

    Acelera-se ou retarda-se seu processo de cassação de acordo com a conveniência da sua sobrevida, assim como se atenuam outros conflitos no Planalto a fim de tranquilizar o ambiente, evitar tiroteios e balas perdidas que possam pôr a perder o governo de modo descontrolado.

    Temer reage. Veio um pacote de medidas microeconômicas, razoáveis, mas pura abstração para quase o povo inteiro e de efeito algum no crescimento de curto prazo –nem era essa a intenção dos economistas que as propuseram.

    Não importa. É preciso mais. Temer acelera de modo imprudente a reforma trabalhista, que não estava nos planos dos economistas da Fazenda para tão cedo. Pelo menos até sexta-feira passada, não estava. Mesmo nesta quarta-feira (21), o ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, dizia que a reforma estava sendo "estudada intensamente".

    Temer cavou ainda medida "popular", o saque do FGTS, que, no entanto, não era popular entre "técnicos". Mas é preciso reagir.

    Os amigos de Michel Temer tomam tiros de delações, a maioria da população quer eleger logo um novo presidente, prevê-se que a economia não crescerá em 2017; o governo agora tropeça mesmo no Congresso.

    Temer reage, pelo menos no discurso, ao dizer que a dura e difícil reforma da Previdência será aprovada até meados do ano. Disse ainda que o Congresso, na maioria aliado, não derrotou o governo ao depenar o acordo da renegociação da dívida com os governadores, que ficou pelado de quase qualquer exigência de conserto do desastre das contas estaduais.

    O que se passou então? Um acordão Planalto-Congresso, parte da tentativa de pacificar a coalizão indócil e ora algo desordenada, dadas as disputas da eleição para o comando da Câmara e a fragilidade do governo? Ao custo do sacrifício de uma medida elaborada a duras penas pela área econômica?

    Temer dará um pulo no vazio da popularidade, carregando nas costas as reformas da Previdência e das leis do trabalho, que não o tornarão mais simpático, ainda mais no quarto ano de crise econômica horrenda.

    vinicius torres freire

    Está na Folha desde 1991.
    Em sua coluna, aborda temas políticos e econômicos. Escreve de quarta a sexta e aos domingos.

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