• Colunistas

    Sunday, 05-May-2024 16:03:47 -03
    Vinicius Torres Freire

    Brasil, confiar, desconfiando

    26/01/2017 02h00

    Mateus Bruxel/Folhapress
    Mercado projeta inflação menor e queda menos acentuada da atividade econômica em 2016
    Consumidora faz compras em supermercado

    A CONFIANÇA do consumidor voltou a subir em janeiro. Voltou na verdade para o nível de setembro do ano passado, quando surgiu uma onda de inverno econômico no que, se esperava, fosse o início da temporada primavera-verão. Deu quase tudo errado.

    A confiança voltou a baixar. Comércio, serviços e, mais inesperado, indústria levaram tombos feios.

    Esperava-se que o PIB deixasse de cair no trimestre final do ano. Depois da estagnação, a economia voltaria ao azul, mesmo que desmaiado, neste início do ano. Não deu nada certo.

    Não se sabe muito bem o que aconteceu, assim como ainda se desconhecem muitas das manhas desta recessão excepcional. Uma hipótese razoável é que a confiança pisava nos astros ou nas nuvens distraída, talvez embalada apenas nas esperanças da troca de governo. Não havia esteio concreto forte para sustentar esperanças. Ao contrário.

    O desemprego aumentava, a população empregada diminuía. As taxas de juros "básicas" reais estavam praticamente nas mesmas alturas recessivas do restante do ano.

    A inflação caía, mas ainda voava nas alturas em que costuma desanimar o povo. O estímulo já pequeno das exportações pareceu fraquejar. Houve acidentes pontuais em alguns setores produtivos. A política tinha surtos de baderna extra.

    A confiança do consumidor, porém, voltou a aumentar neste janeiro, segundo dados da FGV do Rio. Antes de especular se "agora, vai", o índice subiu para quanto? Para um nível próximo apenas ao de agosto de 2015, quando o Brasil mergulhava ainda para as profundas da recessão.

    Sim, estamos agora na direção inversa, mas conviria "confiar, desconfiando" nos índices de confiança, como diria o marechal-presidente Floriano Peixoto.

    O índice de confiança é composto. Um de seus componentes, o de esperança, de melhorias daqui a seis meses, voltou a subir bem. O índice que reflete a situação econômica atual reage de modo muito modesta, quase no mesmo nível da depressão do início do ano passado.

    Por fim, note-se que a última vez em que tais números estiveram na faixa de otimismo foi em outubro de 2014, eleição de Dilma Rousseff. Com o estelionato eleitoral e outros choques, começaram os colapsos.

    Esse sorriso amarelo de animação vai resultar desta vez em algo diferente? "Especulativo, protesto", dir-se-ia em tribunal de filme americano. Mas é o que temos. O que temos para dar esteio a essa piscada de ânimo?

    A inflação baixou bem no ano passado, da casa dos 11% para a dos 6%. Nesta faixa, ainda come muita renda e, a julgar por estatísticas, ainda desanima o povo. Neste ano, deve baixar até 4% ao ano, embora deva subir de novo, se as previsões de preços não estiverem outra vez muito erradas, como o foram no final do ano passado.

    As taxas "básicas" de juros começaram a baixar de modo notável, pelo menos no mercado de dinheiro grosso, e vão baixar bem mais antes da metade do ano. Corte equivalente não vai chegar tão cedo no crediário, por assim dizer. Mas vai fazer em breve diferença para empresas. Mas é alguma coisa.

    Embora desprezado pelo economista padrão, o dinheiro do saque das contas inativas do FGTS vai fazer alguma diferença. É cerca de 0,4% do PIB. Um Bolsa Família inteiro. Era um dinheiro inesperado que vai pingar.

    Uma dúvida maior é a velocidade da destruição de empregos (além, claro, do tamanho da baderna política). Por ora, os chutes parecem pouco informados.

    vinicius torres freire

    Está na Folha desde 1991.
    Em sua coluna, aborda temas políticos e econômicos. Escreve de quarta a sexta e aos domingos.

    Edição impressa

    Fale com a Redação - leitor@grupofolha.com.br

    Problemas no aplicativo? - novasplataformas@grupofolha.com.br

    Publicidade

    Folha de S.Paulo 2024