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    Vinicius Torres Freire

    As obras do Brasil em ruínas

    31/01/2017 21h48

    Edson Silva - 14.nov.14/Folhapress
    RIBEIRAO PRETO, SP, BRASIL, 14-11-2014: Operários trabalham em construção civil em prédio da zona sul de Ribeirão Preto. O mês passado registrou o fechamento de 672 empregos nas dez cidades mais populosas da região. Em Ribeirão, o setor que registrou o pior desempenho foi o da construção civil. ( Foto: Edson Silva/Folhapress) ***REGIONAIS***EXCLUSIVO***
    Prédio em construção no interior de São Paulo

    O BALANÇO do emprego no Brasil de 2016 foi sombrio. No caso da construção civil, a escuridão foi total: lá, o trabalho voltou a desaparecer em ritmo de depressão. O setor desmorona. O governo de Michel Temer pode fazer pouco a respeito. Mas não faz nada, na prática.

    É a desgraça que mais chama a atenção nos números desta terça (31) da Pnad Contínua, do IBGE.

    Em dezembro, o país perdia empregos em ritmo menor, mas ainda horrível, de mais de 2% ao ano, quase 2 milhões a menos que em dezembro de 2015. Na construção civil, o trabalho desaparece no passo de quase 11% ao ano. Desde dezembro de 2015, se foram 857 mil vagas.

    O desmonte continua também na indústria de transformação ("fábricas"), que em um ano perdeu 755 mil empregos. Mas, pelo menos, o ritmo de destruição desacelera desde abril. Na construção, a sangria
    parecia ter se estabilizado na primeira metade de 2016. Voltou a piorar de modo acelerado.

    No caso dos empregos formais, o desastre no setor de obras é de longe o maior.

    O nível de emprego formal chegou ao pico em novembro de 2014. Desde então, se foram 3,4 milhões de empregos com carteira assinada, queda de 8,2%, na soma de todos os setores (dados do Caged). Apenas na construção civil, se foram 914 mil postos de trabalho, baixa de mais de 28%.

    Mais de um em quatro, atenção.

    Para onde quer que se olhe, a construção civil desmorona. Houve superprodução de imóveis; ora se purgam excessos.

    O investimento do governo em obras, pesadas ou de casas, desabou. O crédito imobiliário levou talhos chocantes. Por fim, mas muito importante, a ação das quadrilhas das grandes empreiteiras desestruturou o setor.

    O valor dos novos empréstimos para a compra de imóveis diminuía 30% em dezembro (no acumulado de 12 meses, ante igual período do ano anterior, para pessoas físicas). É o dobro da velocidade de baixa das concessões de crédito no conjunto da economia.

    Os investimentos no Minha Casa, Minha Vida baixaram cerca de 30%. "Cerca de": por causa das "pedaladas" e de acertos na mixórdia das contas federais de 2011-2015, os dados disponíveis
    não permitem contas decentes.

    Continuando. A produção de "insumos típicos da construção civil" ainda caía 9% em novembro (dado mais recente; ante novembro de 2016), enquanto outras grandes categorias da indústria começam pelo menos
    a empatar o jogo, a zerar perdas.

    A construção civil participa com 5,9% no PIB (2015). É ou era maior que a agropecuária. Trata-se de um raro setor em que é possível dar um impulso ao investimento, pequeno, mas algum, no curto prazo.

    O governo Temer optou por largar o investimento público. Mas fez alarde de que estimularia o investimento privado em obras, no que estava certo, de qualquer modo. Muito barulho por nada.

    Até agora, não há sinal de que as concessões de obras e serviços de infraestrutura serão leiloadas, nem de aceleração, na prática, de planos de investimento em energia.

    Não há solução para problemas regulatórios que travam investimentos já nos planos de empresas. Etc. É uma trilha para alguma recuperação econômica, impedida porque o governo Temer empacou no meio do caminho.

    vinicius torres freire

    Está na Folha desde 1991.
    Em sua coluna, aborda temas políticos e econômicos. Escreve de quarta a sexta e aos domingos.

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