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    Vinicius Torres Freire

    Temer conserta a casa para o inverno

    03/02/2017 02h00

    Alan Marques - 7.jan,17/Folhapress
    O presidente Michel Temer visita a presidente do STF, Carmem Lúcia, no Lago Sul de Brasília, para falar sobre o sistema penitenciário do Brasil, neste sábado (07)
    O presidente Michel Temer durante visita a Cármen Lúcia, em Brasília

    O INVERNO ESTÁ chegando, sabe muito bem Michel Temer.

    No recesso político do verão, o presidente foi uma formiga operosa, que fez muito a fim de proteger seu trono da frente fria que virá de Curitiba, entre outras frias.

    Além do mais, contou com a ajuda do colegiado ou acordão informal que prega meias-solas nas instituições furadas, evita conflitos mortais nas cúpulas políticas e lhe dá apoio na elite econômica.

    Supremo, elite do Senado, PSDB e a coalizão informal de empresariado e elite "reformista" parecem ter feito um acordo tácito de estabilidade, de conter a degradação séria que se via antes do recesso.

    Isto é, conflitos entre Judiciário e Congresso e repique agudo de crise de confiança na economia e no compromisso de Temer com a "Ponte para o Futuro".

    Difícil dizer agora se vai ter mesmo votos para aprovar o que importa no Congresso (reforma da Previdência) ou se seu governo vai ser congelado na Lava Jato. No entanto, Temer colocou alguma ordem na sua casa e contou com algumas sortes do destino. Considerem.

    1) Temer venceu com seus aliados as eleições para o comando de Câmara e Senado com danos ao que parece menores às bases de sua coalizão. Rodrigo Maia (DEM) tanto vai liderar o governo na Câmara. Eleito, prometeu apoiar as reformas da "Ponte para o Futuro";

    2) O presidente não interferiu na sucessão de Teori Zavascki na relatoria da Lava Jato. Evitou, assim, atrair ira contra seu governo. Até agora, parece decidido a escolher um nome neutro, "técnico e discreto" para o Supremo, alguém do STJ, talvez uma mulher. Procura explicitamente ficar em bons termos com Cármen Lúcia, presidente do Supremo;

    3) Firmou um acordo definitivo com o PSDB. Conseguiu amaciar a nomeação do deputado tucano Antonio Imbassahy para a Secretaria de Governo, vaga com a queda escandalosa de Geddel Vieira Lima (PMDB);

    4) O PMDB estava com ciúme do tucano no Planalto; o moribundo centrão fazia chacrinha a fim de ganhar um troco. Temer deu um jeito na crise potencial. Levou Moreira Franco para a Secretaria-Geral da Presidência, reacomodando o PMDB na cozinha política do Planalto. De resto, deu um habeas corpus preventivo ao agora ministro, de foro privilegiado. O resto do centrão pode ser aplacado com cargos de baixo custo;

    5) O Supremo procura sanar a turumbamba do final do ano passado. Não entrou na bola dividida da mumunha da reeleição legalmente suspeita de Maia na Câmara. Jogou para as calendas um processo conflituoso, a decisão sobre o impedimento de réus na linha sucessória da Presidência, que pode decapitar presidentes de Câmara e Senado;

    6) No recesso, apareceram motivos reais para acreditar que a recessão pode ter um fim. A inflação passou a cair rápido, assim como os juros básicos, o que conteve o repique da desconfiança econômica. Apesar do desastre social, que prossegue, parece haver uma porta de saída da crise, o que pelo menos reanima as bases de Temer na elite econômica

    7) Nomeou uma ministra negra, também tucana, a desembargadora aposentada Luislinda Valois, para uma pasta de direitos humanos. No mínimo, Temer começa a fazer relações públicas com o mundo exterior ao da bolha de seu governo.
    Não foi pouco.

    vinicius torres freire

    Está na Folha desde 1991.
    Em sua coluna, aborda temas políticos e econômicos. Escreve de quarta a sexta e aos domingos.

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