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O presidente Michel Temer durante visita a Cármen Lúcia, em Brasília |
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Colunistas
Wednesday, 20-Nov-2024 15:21:38 -03Vinicius Torres Freire
Temer conserta a casa para o inverno
03/02/2017 02h00
O INVERNO ESTÁ chegando, sabe muito bem Michel Temer.
No recesso político do verão, o presidente foi uma formiga operosa, que fez muito a fim de proteger seu trono da frente fria que virá de Curitiba, entre outras frias.
Além do mais, contou com a ajuda do colegiado ou acordão informal que prega meias-solas nas instituições furadas, evita conflitos mortais nas cúpulas políticas e lhe dá apoio na elite econômica.
Supremo, elite do Senado, PSDB e a coalizão informal de empresariado e elite "reformista" parecem ter feito um acordo tácito de estabilidade, de conter a degradação séria que se via antes do recesso.
Isto é, conflitos entre Judiciário e Congresso e repique agudo de crise de confiança na economia e no compromisso de Temer com a "Ponte para o Futuro".
Difícil dizer agora se vai ter mesmo votos para aprovar o que importa no Congresso (reforma da Previdência) ou se seu governo vai ser congelado na Lava Jato. No entanto, Temer colocou alguma ordem na sua casa e contou com algumas sortes do destino. Considerem.
1) Temer venceu com seus aliados as eleições para o comando de Câmara e Senado com danos ao que parece menores às bases de sua coalizão. Rodrigo Maia (DEM) tanto vai liderar o governo na Câmara. Eleito, prometeu apoiar as reformas da "Ponte para o Futuro";
2) O presidente não interferiu na sucessão de Teori Zavascki na relatoria da Lava Jato. Evitou, assim, atrair ira contra seu governo. Até agora, parece decidido a escolher um nome neutro, "técnico e discreto" para o Supremo, alguém do STJ, talvez uma mulher. Procura explicitamente ficar em bons termos com Cármen Lúcia, presidente do Supremo;
3) Firmou um acordo definitivo com o PSDB. Conseguiu amaciar a nomeação do deputado tucano Antonio Imbassahy para a Secretaria de Governo, vaga com a queda escandalosa de Geddel Vieira Lima (PMDB);
4) O PMDB estava com ciúme do tucano no Planalto; o moribundo centrão fazia chacrinha a fim de ganhar um troco. Temer deu um jeito na crise potencial. Levou Moreira Franco para a Secretaria-Geral da Presidência, reacomodando o PMDB na cozinha política do Planalto. De resto, deu um habeas corpus preventivo ao agora ministro, de foro privilegiado. O resto do centrão pode ser aplacado com cargos de baixo custo;
5) O Supremo procura sanar a turumbamba do final do ano passado. Não entrou na bola dividida da mumunha da reeleição legalmente suspeita de Maia na Câmara. Jogou para as calendas um processo conflituoso, a decisão sobre o impedimento de réus na linha sucessória da Presidência, que pode decapitar presidentes de Câmara e Senado;
6) No recesso, apareceram motivos reais para acreditar que a recessão pode ter um fim. A inflação passou a cair rápido, assim como os juros básicos, o que conteve o repique da desconfiança econômica. Apesar do desastre social, que prossegue, parece haver uma porta de saída da crise, o que pelo menos reanima as bases de Temer na elite econômica
7) Nomeou uma ministra negra, também tucana, a desembargadora aposentada Luislinda Valois, para uma pasta de direitos humanos. No mínimo, Temer começa a fazer relações públicas com o mundo exterior ao da bolha de seu governo.
Não foi pouco.Está na Folha desde 1991.
Em sua coluna, aborda temas políticos e econômicos. Escreve de quarta a sexta e aos domingos.Fale com a Redação - leitor@grupofolha.com.br
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