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    Vinicius Torres Freire

    Brasil vai ser rebaixado

    05/02/2017 02h00

    Marcos Santos/USP Imagens
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    Desempenho da economia brasileira vai cada vez mais para a rabeira da América Latina

    A América do Sul não é dos lugares mais ricos do planeta. Nem dos mais pobres. Vive pelo meião medíocre do mundo em termos de renda (PIB) por cabeça, per capita. Obviedade. E o Brasil?

    Este país vive pelo meião medíocre da América do Sul. Por enquanto. O Brasil anda caindo pelas tabelas, à beira do rebaixamento para a metade inferior do ranking de PIB per capita. Colômbia e Peru estão nos nossos calcanhares.

    "Metade de baixo do ranking de PIB per capita" não apenas soa melhor que "metade mais pobre" dos países maiores da América Latina. É mais preciso. É também menos dramático, ainda mais quando se leva em conta que as comparações de PIBs e rendas por cabeça não são assim tão confiáveis, em especial quando se trata de apenas um ano da série, por exemplo.

    Quando se consideram vários anos, no entanto, nossa situação não melhora. Piora muito, aliás.

    A renda per capita de Argentina, Chile e Uruguai quase sempre foi mais alta que do Brasil, nos tempos modernos, pelo menos. Brasil e México vinham e vêm a seguir, trocando de posições. Na toada recente, porém, seremos rebaixados para o bloco mais pobre.

    Mas não importa a corrida de cavalos. O problema é que o desempenho econômico brasileiro é menos que medíocre. Parece mais uma síndrome histórica, adjetivo batido que se torna, porém, adequado quando se nota que temos problemas faz quatro décadas.

    Desde 1990, quando há dados comparáveis, o PIB por cabeça do Chile cresceu 145%. O do Brasil, 27%. O da Colômbia, quase 80%. O do Uruguai, 102%. O do Peru, 112%. Bolívia? 83%. Paraguai? 46%. Mesmo antes da catástrofe desta década de 2010, a comparação com outros países da região evidenciava nossos problemas.

    Nos anos melhores de Lula, o desempenho brasileiro era apenas mediano entre os nove países maiores da América do Sul mais o México. Desde 2011, o primeiro de Dilma Rousseff e do começo deste ciclo de ruína, o crescimento deste país superou apenas o da Venezuela, que optou pelo suicídio econômico e civilizatório.

    Para os adeptos restantes da presidente deposta, diga-se que não adianta descontar os anos da crise "do golpe", do "austericídio" ou a desculpa que se dê. Mesmo antes disso, os resultados brasileiros eram piores que os dos países desse G10 latino-americano, afora, repita-se, o caso teratológico da Venezuela.

    Depois da derrubada de Dilma, quase ninguém mais se passa ao ridículo beócio que a ruína brasileira se deveu à crise internacional ou à queda do preço das commodities. Desde 2011, o PIB per capita brasileiro regrediu mais de 4%. Além de Venezuela e Argentina, o caso pior é o do México, com avanço de 8%.

    Mesmo o México. De 1990 a 2010, nossos "hermanos" do norte tiveram um desempenho similar ao do Brasil em mediocridade, embora o país tenha economia aberta, carga tributária e juros menores, prova de que slogans simplórios não resultam em desenvolvimento. Obviamente, não se está aqui propondo fechamento da economia, mais impostos ou que juros sejam irrelevantes –passemos.

    Não há motivos propriamente econômicos para o nosso desempenho tão ruim na comparação com a nossa vizinhança. Nossa síndrome grave é mais política e institucional.

    vinicius torres freire

    Está na Folha desde 1991.
    Em sua coluna, aborda temas políticos e econômicos. Escreve de quarta a sexta e aos domingos.

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