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    Vinicius Torres Freire

    A cor do dinheiro é cinza-rosa

    12/02/2017 02h00

    Marcos Santos/USP Imagens
    A retração do Brasil puxou o resultado negativo para a economia da América Latina. A expectativa para os países da região é de retração de 0,3% este ano. Para 2017, a previsão é de crescimento de 1,6%.No relatório Perspectiva Econômica Global, o Fundo Monetário Internacional diz que no Brasil a recessão é causada pela incerteza política, em meio às contínuas repercussões das investigações da Operação Lava Jato. O FMI acrescenta que as investigações na Petrobras estão sendo mais profundas e prolongadas do que se esperava.Para o fundo, a economia global deve crescer 3,4% este ano e 3,6% no próximo, dois décimos a menos do que o previsto em outubro.Na atualização feita ao relatório, o FMI justifica a revisão para baixo do crescimento mundial tanto em 2016 quanto em 2017 principalmente com o desempenho econômico dos mercados emergentes e das economias em desenvolvimento, como o Brasil. Fonte ABR - notas de real
    Notas de real; pessoal do "mercado" se anima com inflação menor

    A inflação mais baixa levou o pessoal da finança a ver o mundo em tons de cinza com traços marginais de rosa.

    Até observações de praxe sobre "risco político" parecem aguadas pela confiança de que, por exemplo, a reforma da Previdência passaria quase inteira no Congresso, até meados do ano. Não parecem importar as mumunhas do governismo contra a Lava Jato. A força da coalizão de Michel Temer escoraria o programa econômico reformista.

    A hipótese de tumulto nas ruas nem tem cor. Parece ora invisível.

    No final da semana, o pessoal do mercado fez extensa revisão para baixo das previsões de inflação, aliás muito erradas faz seis meses. Rebaixou-se também a previsão para a taxa básica de juro, para algo entre 9,5% e 9% no fim do ano (hoje em 13%). Cresce a torcida para a redução da meta de inflação em 2019.

    As previsões para o crescimento do PIB, que na média embicavam de 0,5% para zero ou menos, talvez venham a ser reavaliadas para aquele 1% que o governo quer anunciar em março. A taxa de juros real "básica" do mercado cai de modo relevante faz um mês. Ao lado do dólar comportado, é algum alívio para as empresas.

    Parecem minudências estatísticas, mas não é bem assim. Muda a perspectiva para o crescimento do final do ano e, ainda mais, para o 2018 de eleições cruciais.

    O "reforço da agenda de reformas", como diz o jargão medonho, teria colaborado para baixar inflação e juros. O risco decrescente de o país quebrar de vez teria contribuído para a valorização do real ("baixa do dólar"), o que ajuda a conter preços.

    O restante da "surpresa inflacionária positiva" seria decorrente da excepcional safra de alimentos e, dizem, da "ancoragem das expectativas" de inflação, cortesia do Banco Central firme e forte.

    O efeito político da inflação mais baixa não deve ser subestimado. O ânimo do povo em relação a governo e economia costuma mudar com IPCA abaixo de 6% e, ainda mais, com inflação da comida em baixa grande. Até julho passado, os preços de alimentos e bebidas subiam no ritmo de 13,6% ao ano; em janeiro, de 6,6%. Nos últimos seis meses, de quase zero.

    Em outros tempos, seria sucesso garantido de público. Neste ambiente, é mais controverso, embora o clima nas ruas esteja até muito calmo, dado o tamanho do desastre.

    Não há manifestações contra os avanços do governismo contra a Lava Jato. Não há lideranças para levar os repauperizados para a rua, pois a esquerda está entre morta, podre e diminuída à irrelevância. A ruína dos Estados pode provocar tumulto grave, desordenado e imprevisível, logo desarticulado, a princípio, como em Rio ou Espírito Santo.

    Em suma, os fios estão desencapados, mas não se encostam para um curto-circuito.

    A confiança no acordão de elite que sustenta a estabilidade precária de Michel Temer e a inexistência de um partido popular qualquer parecem sustentar a ideia de que a "agenda de reformas" deve ser implementada. Melhoras econômicas marginais podem anestesiar um tico do sofrimento social: agora com inflação baixa, mais tarde, meados do ano, com o estancamento da redução do número de empregos.

    Pouco se fala do risco-polícia para a turma do Planalto.

    Esse é o cenário cinza-rosa.

    vinicius torres freire

    Está na Folha desde 1991.
    Em sua coluna, aborda temas políticos e econômicos. Escreve de quarta a sexta e aos domingos.

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