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    Vinicius Torres Freire

    O medo de Temer na Páscoa

    22/02/2017 02h00

    Andressa Anholete - 15.dez.16/AFP
    Brazilian President Michel Temer gestures during the announcement of new measures to stimulate the economy, in the Planalto Palace on December 15, 2016 in Brasilia. / AFP PHOTO / ANDRESSA ANHOLETE
    O presidente Michel Temer no Planalto

    O GOVERNO quer aprovar a reforma da Previdência em um galope pelas águas sujas de março. Quer vencer a parada até abril na Câmara, onde a conversa será mais difícil. Em março, devem ser publicadas as delações da Odebrecht, segundo o cronograma do mundo político.

    O governismo vai roer um osso duro na Quaresma.

    O próprio presidente da Câmara, Rodrigo Maia, alerta para dificuldades em projetos cruciais, como a Previdência e a lei de recuperação para Estados falidos.

    Maia se diz "reformista" até porque sua carreira e o destino do "bloco no poder" dependem disso, segundo ele mesmo.

    Acelerar a tramitação é um modo de evitar que o povo "nas ruas" se dê conta da tunda? O pessoal do governo diz que não, tanto que vai fazer campanhas de esclarecimento, "suscitar o debate público informado". Da "base" do governo brotam pencas de emendas para atenuar a reforma.

    Do ponto de vista do "Grande Eleitor" de Temer, donos do dinheiro grosso e associados, e dos economistas-padrão, quanto mais cedo se votar a reforma da Previdência na íntegra, melhor.

    Assim, haveria perspectiva de redução contínua da taxa de juros e de sobrevivência do teto, o limite para o crescimento real dos gastos do governo.

    Sem reforma da Previdência dura, tal como a apresentada pelo governo, vai ficar a impressão de que o "teto" cai a partir de 2019, devido a rachaduras políticas ou econômicas, ou dos dois tipos.

    Um fracasso da reforma da Previdência em princípio e por si só não arrebenta de vez as contas do governo durante o mandato de Temer.

    Quanto aos efeitos secundários, porém imediatos, a coisa pode ficar mais difícil: incerteza, juros em nível mais alto. Por quê?

    Porque, com "teto" e sem reforma, as demais despesas federais serão asfixiadas. Gastos com saúde e educação ficarão restritos ao piso legal. O investimento "em obras" deve ser achatado.

    Com o "teto", a despesa do governo federal vai diminuir como proporção do PIB (em relação ao tamanho da economia). Caso a despesa da Previdência continue a crescer, as demais terão de ser cortadas (também como proporção do PIB).

    Aprovada na íntegra a reforma do governo, a despesa com Previdência e benefícios assistenciais passaria de 8,9% do PIB em 2016 para 9,13% do PIB em 2019, caindo lentamente até 8,8% até 2026.

    São estimativas da Secretaria da Previdência. Sobem um tanto até 2019, enquanto a despesa federal estará caindo. Não vai dar para todo o mundo, pois.

    Durante o governo Temer, ainda haverá alguma folga, por assim dizer; a equipe econômica tem encontrado alguma gordura para cortar.

    Daí em diante, é aperto. Pode então haver reação social e política contra o "teto", ainda mais se a economia estiver recuperando devagar a renda que perdeu na Grande Recessão.

    Em tese, pelo menos segundo os credores do governo ("mercado"), a perspectiva de estouro do "teto" provocaria tensão logo agora: seria um sinal de que a dívida pública continuará a subir sem limite. Essa é a hipótese mais sinistra.

    Pode ser que as emendas parlamentares não arrebentem o projeto do governo.

    Pode ser que a reação do pessoal da finança à "desfiguração" não seja intensa como promete. O risco de a maionese desandar, de qualquer modo, está no radar de todo o mundo.

    vinicius torres freire

    Está na Folha desde 1991.
    Em sua coluna, aborda temas políticos e econômicos. Escreve de quarta a sexta e aos domingos.

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