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    Vinicius Torres Freire

    PT e PSDB, mensalão e acordão

    12/03/2017 02h00

    Ueslei Marcelino/Reuters
    FILE PHOTO: Brazil's interim President Michel Temer (R) talks with Senator Aecio Neves during a ceremony where he made his first public remarks after the Brazilian Senate voted to impeach President Dilma Rousseff, at the Planalto Palace in Brasilia, Brazil, May 12, 2016. REUTERS/Ueslei Marcelino/File Photo ORG XMIT: RJO01
    O presidente Michel Temer e o senador Aécio Neves, do PSDB de Minas Gerais

    Quase todos os partidos querem uma passagem para o trem da alegria da anistia para o caixa dois e para dinheiro "legal" de campanha com origem suja. A negociação anda frenética.

    Essa paz dos cemitérios começa a receber apoio de gente de fora do universo paralelo da política politiqueira. Gente da direita à esquerda; letrados, causídicos e capitalistas. Dão ares de armistício de interesse nacional à tese de Aécio Neves: se pegam os menos piores, fica tudo de lambuja para forasteiros suspeitos.

    Dado o momento histórico (ironia), convém lembrar a semelhança da tese do acordão de 2017 com os argumentos a que PT e PSDB (sic) recorriam para se defender no mensalão, em 2005. Recordar é viver. Ou não.

    "Todo o mundo vai ficar no mesmo bolo e abriremos espaço para um salvador da pátria? Não, é preciso salvar a política... Um cara que ganhou dinheiro na Petrobras não pode ser considerado a mesma coisa que aquele que ganhou cem pratas para se eleger." Aécio Neves, em jantar de confraternização pluripartidária, 8 de março de 2017.

    "Há caixa dois com corrupção e caixa dois sem corrupção. Corrupção é ter um relacionamento com o empresariado que condicione contribuições de campanha a decisões administrativas. Outra coisa é o financiamento de campanha, dentro da legalidade ou à margem." Ricardo Berzoini, então recém-eleito presidente do PT, 14 de outubro de 2005.

    "Há uma diferença entre quem recebeu recursos de caixa dois para financiamento de atividades político-eleitorais, erro que precisa ser reconhecido, reparado ou punido, daquele que obteve recursos para enriquecimento pessoal, crime puro e simples de corrupção." FHC, 3 de março de 2017, rebatendo acusações contra tucanos.

    "Vocês não são corruptos. Vocês cometeram erros, mas não de corrupção." Lula, para deputados federais do PT, 7 de outubro de 2005. Argumentava que o dinheiro do mensalão fora usado apenas para despesas eleitorais não declaradas à Justiça.

    "Vocês estão pagando um preço muito alto por uma coisa que é reprovável, mas que foi feita por todos os partidos e, portanto, não pode significar o banimento da vida pública." Antonio Palocci, então ministro da Fazenda, na mesma reunião de Lula com a bancada do PT.

    "Agora, o caixa dois tem que ser desmistificado também. Necessariamente não significa um quadro de abuso de poder econômico." Gilmar Mendes, ministro do Supremo, à BBC Brasil, 10 de março de 2017.

    "Já disse que investigação vale para todos. O problema de campanha eleitoral deve ser investigado. Agora, ele é diferente de corrupção, malversação de dinheiro público. São coisas distintas." Geraldo Alckmin, então também governador de São Paulo, 4 de agosto de 2005.

    Segundo Alckmin, eram diferentes os casos do PT e o de Eduardo Azeredo, então presidente do PSDB, que recebera financiamento de campanha do tesoureiro do mensalão, Marcos Valério.

    "[O PT] usou de um recurso não contabilizado para quitar dívidas das nossas campanhas... Por que nós usamos esses recursos? Porque as dívidas, as campanhas eleitorais, todos nós aqui nesta sala sabemos como é feita a campanha eleitoral." Delúbio Soares, ex-tesoureiro do PT, na CPI dos Correios, 20 de julho de 2005.

    vinicius torres freire

    Está na Folha desde 1991.
    Em sua coluna, aborda temas políticos e econômicos. Escreve de quarta a sexta e aos domingos.

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