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    Vinicius Torres Freire

    'Lista de Janot' não abala mercado

    16/03/2017 02h00

    Win McNamee - 17.nov.16/Getty Images/AFP
    WASHINGTON, DC - NOVEMBER 17: Federal Reserve Board Chairwoman Janet Yellen testifies before the Joint Economic Committee on Capitol Hill November 17, 2016 in Washington, DC. Yellen delivered testimony on the economic outlook for the U.S. during her testimony. Win McNamee/Getty Images/AFP == FOR NEWSPAPERS, INTERNET, TELCOS & TELEVISION USE ONLY ==
    A presidente do Fed (Federal Reserve, o banco central dos EUA), Janet Yellen

    O DÓLAR caiu, os juros baixaram e a Bovespa subiu no dia seguinte ao da "lista de Janot".

    No dia em que a esquerda fez protestos notáveis contra as mudanças na Previdência, na CLT e contra Michel Temer em geral.

    Foi coincidência: o motivo maior da alegria veio lá de fora, dos EUA. Mas o povo do mercado e empresários graúdos mantêm o sangue-frio quando analisam os efeitos da Lava Jato na tramitação das "reformas".

    Além de frio, otimista. Muitos acham que o governo vai se desmantelar mais um pouco, mas que Temer fica e que os parlamentares não têm alternativa a não ser tocar as "reformas", fugindo ou não da polícia.

    Os preços do mercado melhoraram nesta quarta (15) porque o banco central dos EUA (Fed) anunciou que deve elevar seus juros de modo espaçado e paulatino. A depender do Fed, a calmaria na finança global continua.

    Além do mais, uma dessas empresas que avalia o risco de calote de países (Moody's) tirou o "ponto vermelho" da nota do governo do Brasil (de perspectiva negativa, de baixa, para estável). Foi uma surpresa, a reforçar otimismos, no entanto sempre voláteis.

    A Moody's disse que:

    1) o governo retomou controle sobre a política macroeconômica, à deriva até meados do ano passado, e que há sinais de retomada econômica;

    2) a política dá mais sustentação às "reformas";

    3) parece agora que as estatais não vão precisar de socorro financeiro do governo e que o dinheiro federal para Estados falidos será limitado.

    Fed mansinho e Moody's animaram a praça.

    O real então subiu, na mesma onda de todas as moedas emergentes relevantes. Caíram as taxas de juros no mercado de atacado de dinheiro. Aumentaram as apostas no mercado de que o Banco Central do Brasil vá cortar a taxa de juros em um ponto, em 12 de abril, acelerando a baixa da Selic.

    Em suma, embora o motivo de animação na praça do mercado tenha sido quase todo externo, a "lista de Janot" não contribuiu para abater os ânimos do pessoal do dinheiro grosso, pois já seria esperada por todo o mundo, governo, Congresso e "mercado".

    Empresários e gente da finança, uma meia dúzia ouvida por este jornalista, acha, sim, que a mudança na Previdência deve atrasar, dado o tumulto da corrupção. Mas todos chutam que a coisa passa, não muito desfigurada, até setembro (data de aprovação final no Senado).

    Mais gente ainda diz que "não há alternativa".

    Não há alternativa a Temer (doutrina "é o que temos"); se Temer cair, via TSE, cai mais tarde, depois das "reformas". Não há alternativa para o Congresso, a não ser tentar estabilizar a economia, aprovando "reformas".

    Temer se mexe. Está tentando resolver querelas com seus aliados famintos no Congresso, em sucessão de jantares, cafés e reuniões. Vive às voltas com seu líder no Supremo, Gilmar Mendes. Conversa sem parar com o empresariado que se ocupa algo mais de política.

    Em breve, o governo lança campanha para dizer que a recuperação econômica "vem aí", se a Justiça não derrubá-la, como fez com a propaganda da reforma previdenciária.

    Os gritos das ruas e a sirene da polícia não alarmam de modo exagerado o pessoal nos palácios de Brasília e nas torres envidraçadas da finança de São Paulo.

    vinicius torres freire

    Está na Folha desde 1991.
    Em sua coluna, aborda temas políticos e econômicos. Escreve de quarta a sexta e aos domingos.

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