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    Vinicius Torres Freire

    Desemprego eterno

    30/04/2017 02h00

    Faz pelo menos 20 anos que o desemprego não é tão alto no Brasil. Na melhor das hipóteses correntes, deve ficar em 13%, na média deste 2017. Em duas décadas, a pior marca havia sido a de 2003, 10,2%, a do primeiro ano de Lula, decorrente das crises de FHC e do pânico com a primeira eleição do petista.

    Imagine-se que a taxa de desemprego caia um tanto, mas permaneça até 2020 em nível bem mais alto que a do pior dos últimos 20 anos. O jornalista não está imaginando coisas. Esta é uma previsão dos economistas do Bradesco. Em 2020, o desemprego ainda estaria em 11,8%, na média do ano. Quanto a 2018, pelo menos, há quem esteja mais pessimista que o pessoal do Bradesco (Itaú ou Safra, por exemplo).

    Previsões econômicas são o que sabemos. Por exemplo, economistas capazes de grandes instituições financeiras têm estimativas disparatadas até sobre o crescimento da economia neste primeiro trimestre de 2017. Há quem diga que foi de 0,7%. Outros, de 1,4%. Para 2017 inteiro, o pessoal dos bancões estima desde um avanço do PIB de 0,2% até alta de 1%. São diferenças brutais.

    Mas volte-se à vaca fria e aparentemente morta do emprego.

    Esses mesmos economistas que preveem desemprego aparentemente crônico consideram que o país deve voltar a crescer pelo menos no ritmo da média medíocre dos últimos 20 anos, algo em torno de 2,5%, por aí. Ou seja, trata-se de uma economia que, mesmo saindo uns degraus do buraco, tenderia a criar inempregáveis em massa.

    A discussão dos motivos possíveis do desastre não cabe no espaço destas colunas, se por mais não fosse porque a controvérsia é grande e estudos amplos sobre o mercado de trabalho brasileiro são escassos, se tanto. Para piorar, nossa ignorância deve aumentar bastante depois desta recessão abissal.

    Depois de reformas, seja lá quais forem, e de todas as sequelas causadas por desgraça recessiva assim persistente, apenas incautos heroicos devem se arriscar a dizer o que terá sido feito da capacidade dos trabalhadores de se empregar e da economia de oferecer trabalho.

    No entanto, pode-se especular sobre o tamanho do risco.

    Nos anos Lula, que começaram com uma lenta recuperação do emprego, a média anual da taxa de desemprego foi de 9% (descontado aquele ano inicial de problemas herdados). Nos insustentáveis anos Dilma Rousseff, de 7,5%.

    Conversava-se sobre escassez de mão de obra, em particular da mais qualificada, embora faltasse gente para serviços simples e começasse uma pequena onda de imigração dos vizinhos sul-americanos.

    Apesar de o país parecer relativamente pacificado, estávamos longe de ser um paraíso social. Mesmo com o menor desemprego de décadas, estourou a fúria de 2013. Mesmo nos melhores anos, o desemprego de jovens continuou alto.

    Imagine-se agora meia década com uma taxa de desemprego que seja 50% ou 60% maior que a dos anos em que os maus humores ainda assim explodiram (2011-2014). De massas maiores de jovens sem emprego, correndo o risco de se tornarem cronicamente inempregáveis. De que tal desgraça ocorra além do mais nesses ambientes desesperados e de niilismo em que facções recrutam deserdados da terra.

    Não convém pagar para ver se as previsões estarão certas.

    vinicius torres freire

    Está na Folha desde 1991.
    Em sua coluna, aborda temas políticos e econômicos. Escreve de quarta a sexta e aos domingos.

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