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    Vinicius Torres Freire

    Esquisitices nos supermercados

    12/05/2017 02h00

    Danilo Verpa - 23.ago.16/Folhapres
    SAO PAULO - SP - 23.08.2016 - Mercadinho Compraki. Redes de supermercados de bairro, que estão crescendo mas agora competem com grandes redes. (Foto: Danilo Verpa/Folhapres, MPME)
    Mercado em SP; vendas caíram 7,8% em março em relação a fevereiro

    ALÉM DE DUROS e com medo do futuro, os brasileiros passaram a se comportar de modo muito estranho nas suas compras de supermercado, ao menos no começo deste 2017, a julgar pelos números do IBGE. Ou, então, as medidas de quanto se vende no comércio é que parecem estranhas.

    Essa esquisitice e outras dúvidas sobre o novo, mas certamente deplorável, estado da economia pós-recessão estão dificultando prognósticos e medidas mais refinadas do que está acontecendo.

    Seja como for, começam a sair previsões baixistas para o PIB do segundo trimestre: no vermelho.

    A economia voltou a crescer um tico no primeiro trimestre, embora as previsões sobre o tamanho da melhora sejam muito disparatadas. Só vamos saber do número oficial do crescimento em 1º de junho.

    Quanto ao segundo trimestre, abril a junho, a coisa deve ter sido mais deprimente, um tanto por efeito estatístico: baixa em relação ao primeiro trimestre.

    Em termos políticos e, talvez, até para os ânimos gerais, não vai ser nada bom voltar ao vermelho, por mais que a realidade não deva mudar muito até meados do ano, ao menos.

    SUPERMERCADO ESTRANHO

    O comércio levou um tombo horrível em março, dizem os números do IBGE, uma daquelas baixas que só acontecem uma vez por década. Olhando os números mais de perto, nota-se que o tombo se deveu totalmente à baixa das vendas em híper e supermercados.

    No resto do comércio, houve mais ou menos estagnação. Dado o estrago causado pelos supermercados, o comércio caiu 1,9% de fevereiro para março, uma desgraça inédita em 14 anos. Se é que foi desgraça, pois os números andam muito esquisitos.

    Qual a estranheza? As vendas nos supermercados caíram 7,8% em relação a fevereiro. Em janeiro, haviam subido 9,8%. Variação absoluta desse nível havia ocorrido em apenas 1 dos 206 meses da Pesquisa Mensal de Comércio, que vem desde 2001. Em 199 meses, as variações ficaram entre alta ou baixa de 3%.

    Como houve revisão metodológica dessa pesquisa do IBGE e dados novos a partir de dezembro, ainda está difícil entender o jeitão da numeralha. Talvez seja cedo demais para saber o que se passa. Ainda assim.

    Teria havido alguma mudança comportamental extraordinária dos consumidores? As pessoas estão tendo surtos de ânimo e medo de gastar, de quase um mês para o outro? Enfim, qual o motivo para a nova série de dados deste ano destoar tanto, mês a mês, daquela dos 16 anos anteriores, em que a economia também passou por solavancos enormes?

    As medidas alternativas de vendas em supermercados não ajudam muito a esclarecer a questão. Há os números da Abras (Associação Brasileira de Supermercados), por exemplo. Mas eles jamais conversaram com os números do IBGE, da Pesquisa Mensal de Comércio, a não ser para resultados anuais, e olhe lá.

    A esta altura, apenas o IBGE poderia tentar esmiuçar o motivo dessas variações quase inéditas nas vendas dos supermercados.

    Seria útil, mas não vai mudar grande coisa na interpretação geral do que se passa: a recessão acabou, mas o país está ainda estagnado.

    vinicius torres freire

    Está na Folha desde 1991.
    Em sua coluna, aborda temas políticos e econômicos. Escreve de quarta a sexta e aos domingos.

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