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    Vinicius Torres Freire

    Banco Central, um otimista no pântano

    23/06/2017 02h00

    Alan Marques/Folhapress
    Presidente do BC, Ilan Goldfajn, comanda a reunião do Copom
    O presidente do BC, Ilan Goldfajn, comanda reunião do Copom

    A ECONOMIA andava melhor que o previsto até maio, segundo o Banco Central. Tanto que o PIB de 2017 poderia crescer mais que o 0,5% previsto, não fosse a crise política. O BC não revisou a previsão para cima porque não sabe que bicho vai dar após os grampos de Michel Temer.

    É o que se lê no Relatório Trimestral de Inflação (RTI) do BC, publicado nesta quinta-feira (22).

    Dada a reação imprevisível dos "agentes econômicos" ao novo surto de sordidez, também não se sabe o quanto os juros vão cair. Mas pode ser que o BC desista da freada que anunciou em 31 de maio, lê-se também no RTI, pois não há "relação direta e mecânica entre o aumento de incerteza [salseiro político] e a política monetária".

    E daí? Antes de mais nada, um lembrete sobre previsões.

    No fim de 2015, ainda sob Dilma Rousseff, os economistas do setor privado ouvidos pelo BC previam crescimento de 1% neste 2017.

    A estimativa baixou até 0,2% em abril, às vésperas do afastamento de Dilma. Pouco depois do impeachment, em setembro, o relativo otimismo ia ao auge recente: crescimento de 1,4% em 2017. Volátil.

    Daí em diante, a alegria minguou. A maioria dos economistas esperava recuperação baseada na melhora dos ânimos de consumidores e empresas, em alta desde o fundo do poço de setembro de 2015. Não rolou.

    Os juros não caíam, o governo cortava investimento, o desemprego aumentava, o setor externo não dava conta de compensar a descida no pântano doméstico. Desde dezembro de 2016, a estimativa de crescimento para 2017 flutua em torno de 0,5%.

    Qual a diferença de 2017, antes do novo tumulto? As taxas de juros reais caíam desde novembro do ano passado, no atacadão do mercado de dinheiro, embora começassem a se mover mesmo apenas em abril, no varejo dos bancos. O investimento do governo ainda cai, mas o total (massa) dos rendimentos do trabalho se estabilizava.

    A taxa de juros real (ex-ante) no atacadão de dinheiro deu um saltinho desde maio. A confiança bambeou, mas nada se sabe de seu impacto real nos negócios. No entanto, mais dois meses de juros congelados e, pior, uma possível retranca nos bancos vão desandar a maionese do PIB.

    No que é menos imprevisível, o que temos de crise adiante? Uma primeira denúncia da Procuradoria-Geral contra Temer sai na semana que vem. Até que a Câmara decida o destino do presidente, vão umas três semanas, até o recesso do Congresso, que começa em 17 de julho.

    A discussão do que sobrar da reforma da Previdência fica, na melhor das hipóteses, para agosto, volta do recesso. Até lá, observam-se as chances de sobrevida ativa do governo. Isto é, se aprova a reforma trabalhista e se sofrem mais delações mortíferas. Em suma, são mais dois meses que podem resultar em danos: juros parados na praça, consumidor e empresas na retranca.

    Para terminar, convém explicar esse nanocrescimento esperado pelo BC: é reposição de estoques de empresas. Do lado da despesa, o consumo privado não cresceria, por causa de desemprego e crédito travado.

    Gasto do governo e investimento privado ainda cairiam. Quanto à oferta, produção, o bom resultado da agricultura desaparecerá no restante do ano, a indústria crescerá um tico mínimo e o maior setor, serviços, andará para trás.

    vinicius torres freire

    Está na Folha desde 1991.
    Em sua coluna, aborda temas políticos e econômicos. Escreve de quarta a sexta e aos domingos.

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