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    Vinicius Torres Freire

    Os juros no Brasil das pernas quebradas

    28/06/2017 02h00

    Alan Marques/Folhapress
    Presidente do BC, Ilan Goldfajn, comanda a reunião do Copom
    O presidente do BC, Ilan Goldfajn, comanda reunião do Copom

    O BANCO CENTRAL anda dizendo que quebrou a espinha da inflação. Qual o risco de agora quebrar ainda mais as pernas da economia, já trituradas por mais de três anos de recessão?

    Isto é, qual o risco de o BC ir devagar demais com o andor da "sua" taxa de juros? Essa discussão voltou a ferver, pois:

    1) O país corre o risco de uma recaída na recessão;

    2) As taxas de juros no atacadão de dinheiro, onde bancos fazem negócios, subiram faz quase mês e meio. O BC vai chancelar a alta?

    A economia vive a pão e água. O pão é a redução da taxa básica de juros, quase o único estímulo disponível para colocar de pé a atividade produtiva.

    Pode faltar pão, por excesso de prudência do BC?

    Os economistas mais certeiros nos chutes informados a respeito do futuro da inflação estimam que o IPCA vai abaixo de 2,94% neste 2017 e a 4% em 2018. As "expectativas" estão sob controle. Mas as equações do Banco Central insistem em discordar. Projetam inflação maior.

    Além de discordar nos números, o BC em suas artes teme que a morte provável das reformas abale a crença no controle de deficit e dívida federais; mais imediatamente, pode jogar o preço do dólar para cima, com prejuízos para as expectativas de inflação. Isto implica em tese taxas de juros mais altas.

    O povo da finança, em especial nos bancos maiores, não acredita tanto nisso, ressalte-se, mas o BC acha que o pessoal está otimista.

    Os juros "do BC" não podem fazer grande coisa pelo PIB deste ano e, talvez, nem tanto quanto se gostaria pelo PIB de 2018. O problema é que o risco de o país passar por um quinto ano de recessão não é mais desprezível (isto é, outro ano de queda ou estagnação do PIB per capita).

    Pode ser que o BC tenha esquentado a água (baixado os juros), que ainda apenas não teria saído pela torneira. Baixas de juros levam tempo para fazer efeito maior (um ano, por aí), e o BC começou o corte para valer na virada do ano.

    Mas pode ser que a água vaze ou pare no cano entupido.

    Nos bancos, a baixa dos juros começou apenas em abril. Não se sabe o que aconteceu depois, mas, antes mesmo do tumulto político de maio, os bancos maiores previam retranca até o trimestre final do ano. O consumidor, endividado, também se retrai.

    Como diz o jargão dos economistas, o "canal do crédito está entupido".

    Medo de estouro do dólar? Hum. O BC tem US$ 376 bilhões em reservas (20% do PIB) e bala na agulha de swaps cambiais. O deficit externo (em conta-corrente) cai de modo abissal, de 4,4% do PIB em maio de 2015 para 0,96% do PIB no mês passado.

    Isso sem desvalorização grande do real ou termos de troca viajando à Lua (isto é, bons preços para os produtos brasileiros). Essa redução se deve apenas ao congelamento da economia.

    O "canal do câmbio" não parece que levará água para a bacia da inflação.

    Sempre pode haver um pânico financeiro, claro, com o colapso da crença em uma arrumação da política econômica ou coisa pior, por exemplo. Nesse caso, quase tudo terá ido à breca, tanto faz se o BC tenha baixado, sei lá, um ponto e meio de juros além da conta. Aí, a conversa seria outra.

    O risco que começa a aparecer é o de uma depressão.

    vinicius torres freire

    Está na Folha desde 1991.
    Em sua coluna, aborda temas políticos e econômicos. Escreve de quarta a sexta e aos domingos.

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