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    Vinicius Torres Freire

    A invenção da campanha de 2018

    31/08/2017 02h00

    Pilar Olivares - 20.ago.2014/Reuters
    Fachada da Eletrobras, no Rio de Janeiro (RJ). *** A view of the headquarters of Brazil's power company Eletrobras in downtown Rio de Janeiro August 20, 2014. REUTERS/Pilar Olivares (REUTERS - Tags: BUSINESS POLITICS)
    Fachada da Eletrobras, no Rio; privatização deve ser assunto no meio da campanha de 2018

    O PLANO de vender a Eletrobras causa menos bafafá em jornais e redes sociais do que a extinção da Renca, essa reserva mineral de nome engraçado e destino talvez lúgubre.

    Por relevante e suspeitíssimo que seja, o caso Renca afeta a vida de muitíssimo menos gente que o futuro do setor elétrico e mesmo o da Eletrobras.

    A reforma trabalhista passou sem tumulto algum nas ruas, sob indiferença ou resignação dos trabalhadores, e com alvoroço mínimo no Congresso.

    A mudança da Previdência deve ser tão desmatada quanto a Amazônia perto de pastos e sojas, caso ainda saia algum cachorro desse mato. Ainda assim, no que tem de oposição popular, a reação à mudança nas aposentadorias é mais passiva e indireta, mediada pelas antenas eleitorais do parlamentar médio.

    Se mesmo Michel Temer causa estupor, um assunto mais remoto, ainda novo e nebuloso como a privatização da Eletrobras é que não daria jeito na abulia nacional. Ou não? O estupor, a paralisia indiferente, ou a grande resignação não são explicações, mas tautologias. O que houve com nervos e músculos sociais?

    Não é mera questão especulativa. Esses assuntos e outros, como impostos, direitos adquiridos etc., estarão presentes na campanha de 2018, como tema de debate, programa ou fantasmas que quase todo o mundo fingirá não estar vendo.

    A degradação da esquerda velha e a fragmentação de movimentos sociais e esquerdas novas são uma explicação parcial e óbvia da queda de tensão social do debate.

    Assuntos ganham vida política quando se encarnam, quando se tornam modo de expressar diferenças de grupos sociais e/ou políticos, mesmo de modo menor ou tolo, como os embates paulistanos sobre ciclofaixas no ano passado (desculpem o provincianismo).

    A disputa partidária, mesmo baixa e precária como deve ser a de 2018, deve reviver alguns desses temas, parte deles brasa dormida: Previdência, privatização, impostos.

    Caso o governo Temer não desmorone de fato ou de direito até a metade do ano que vem, a privatização da Eletrobras vai virar assunto vivo no meio DA campanha, embora não se saiba se assunto DE campanha.

    Um candidato da coalizão liberal, ou algo que o valha, quase todos ora com Temer, vai defender o combo desestatização, reforma da Previdência e, de resto, pagar a conta de ter aderido a este governo?

    Um candidato da esquerda vai conseguir reviver desconfianças antigas em relação à minimização do Estado e, talvez mais fácil, colar a desmoralização de Temer e a lerdeza econômica à "agenda de reformas"?

    Embora muito se especule sobre candidaturas, alianças e mesmo regras eleitorais, a conversa da eleição do ano que vem ainda é uma incógnita, talvez até mesmo no que diz respeito à rejeição dos "políticos tradicionais".

    Candidatos podem reinventar o debate (mesmo a alucinada novidade de Collor de 1989 obrigou muita gente a sair do armário e a falar em "choque de capitalismo").

    Pode ser que não se invente nada, que se minta ainda mais à vontade, que se trate de corrupção apenas. Pode ser que interesses prejudicados ou irritados se organizem justamente por causa da eleição, de uma candidatura esperta.

    vinicius torres freire

    Está na Folha desde 1991.
    Em sua coluna, aborda temas políticos e econômicos. Escreve de quarta a sexta e aos domingos.

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