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    Vinicius Torres Freire

    Temer Quebra Barraco, arrasa quarteirão

    03/09/2017 02h00

    A construção civil desabou no governo de Michel Temer. Ruía desde os tempos da antecessora, claro. Temer é um tipo de segundo terremoto, aquele que acaba de devastar os prédios que sobrevivem lascados ao primeiro abalo.

    Onde o PIB está mais podre?

    Olhando pelo lado da produção, na construção civil, que voltou a afundar rápido desde a ascensão de Temer. O setor teve uma recaída, voltou a encolher, depois de ter evitado a quase morte de 2015. Houve um novo surto de desemprego, de resto. Nas categorias da Pnad do IBGE, é o único ramo de atividade ainda no vermelho vivo, perdendo empregos a um ritmo anual de mais de 8%.

    PIB DO BRASIL
    Economia do país cresce 0,2% no 2º tri

    Olhando pelo lado da despesa, o PIB afunda mais no investimento (em novas obras, máquinas, equipamentos etc.). Investimento e construção civil são siameses.

    O que Temer tem a ver com isso? Coincidência? Não.

    A construção civil decerto padece de males múltiplos e mais antigos. Por exemplo, excesso de produção de moradias e instalações para empresas, endividamento excessivo de firmas e famílias, distratos, juros altos, retranca de crédito. Parou ainda por causa da corrupção descoberta, que trava obras das empreiteiras bandidas. Ou devido a projetos suspensos de estatais quebradas e ao congelamento de obras dos elefantes brancos dos anos petistas.

    O governo Temer, por sua vez, asfixia o resto do investimento público "em obras", redução de uns 38% em relação ao ano passado (não é muito dinheiro em relação ao investimento na construção civil, mas seria um resto de ar que animaria também investimentos privados).

    "Não haveria o que fazer", pois o governo está na pindaíba extrema, diz o governismo.

    PIB por setores

    É mentira, a começar pelo fato de que o gasto extra do governo neste ano com servidores equivale ao corte de investimentos (há risco de a coisa piorar, pois o governo não deve conseguir nem cumprir a meta fiscal arrombada). Ainda está sub judice a questão de saber se os bancos públicos estão segurando demais o crédito.

    É incompetência, porque Temer não consegue colocar na rua projetos de concessão de obras e serviços de infraestrutura para a iniciativa privada, que substituiria ao menos em parte o governo. Para a rua foi apenas o pacotão requentado de projetos de concessões.

    Era preciso remontar o "arcabouço regulatório", blá-blá-blá, de fato arruinado por Dilma "Nero" Rousseff? Sim. Virem-se. Afinal, essa turma foi para o governo porque quis e com o programa econômico que lhe deu na telha, certo?

    Qual a prioridade dada ao investimento? Quede as tropas de técnicos para acelerar a preparação de normas, projetos, licitações? Funcionário e nomeação não faltam ao governo. Temer dá dezenas de cargos aos amigos da onça que prometem poupá-lo da decapitação.

    Investimentos das empresas concessionárias seriam um raro impulso para tirar a economia do buraco. Pouca obra haverá na rua até 2018, dizem empreiteiros restantes, prestantes ou fora da cadeia.

    Ficamos a depender da agricultura, da queda da inflação e da lerdíssima baixa dos juros, além da heterodoxia da liberação do dinheirinho do FGTS. Foi isso que fez o PIB entrar no azul clarinho nesta primeira metade do ano.

    vinicius torres freire

    Está na Folha desde 1991.
    Em sua coluna, aborda temas políticos e econômicos. Escreve de quarta a sexta e aos domingos.

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