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    Vinicius Torres Freire

    Quadrilhão ataca, brasileiros se viram

    06/09/2017 02h00

    Pedro Ladeira/Folhapress
    BRASÍLIA, DF, 21.06.2017: JOESLEY-BATISTA - Joesley Batista, da JBS, deixa a superintendência da Polícia Federal em Brasília após prestar depoiimento sobre as operações Bullish e Greenfield. (Foto: Pedro Ladeira/Folhapress)
    Joesley Batista, um dos donos da JBS

    A RECUPERAÇÃO nanoscópica da economia continua. A produção da indústria cresceu em julho, pelo quarto mês seguido, inédito desde 2013, anunciou o IBGE.

    Indicadores indiretos, tentativas de antecipar os resultados de agosto, sugerem que a indústria melhorou outro tico e que o setor de serviços voltou a despiorar.

    Os brasileiros se viram, arrumam bicos e trabalhos sem carteira, sem direitos, inventam pequenos negócios, combatem o desemprego na raça. Mas o Quadrilhão continua a sabotagem. Põe sob risco mesmo essa mínima saída do fundo do buraco.

    O Quadrilhão é essa gente do Planalto, do Congresso e seus amigos e compadres que tenta escapar da polícia. Fez festas por estes dias, pois Joesley Batista, um capo da JBS, conseguiu descer ainda mais na escala da cafajestagem e do gangsterismo.

    Por comparação, a turma da quadrilha estatal acha que ficou bem na foto e que os grampos incriminadores de Batista podem ir para o vinagre.

    Até os povos do mercado acharam que tudo bem ou assim explicaram a animação financeira da semana, que atribuíram a riscos menores de tumulto e queda de Michel Temer. Ignoraram as notícias de novas delações e comprovações de imundícies da turma.

    Pode ser que cheguemos a uma espécie de equilíbrio podre provisório. Isto é, que a casta dos ficha-imunda se entrincheire e a economia saia do coma com as doses homeopáticas de incentivos restantes, poucos. Haverá sequelas, mas talvez não apareçam agora.

    No entanto, mesmo de uma perspectiva cínica e de curtíssimo prazo, a operação do governo derrapa nessa lama.

    Como se repete aqui e alhures faz mais de ano, uma alternativa restante para reativar a economia no curto prazo é colocar obras na rua por meio de concessões de infraestrutura: reavivar algum investimento e a construção civil. Isto não anda.

    A indústria na média despiora, está perto de voltar ao azul, na evolução medida em 12 meses (ainda recua 1,1% ao ano). Mas a indústria de material para a construção civil é só desgraça, recuo de 8,2% em 12 meses.

    O emprego no setor ainda recua no ritmo de mais de 8% ao ano, o único no vermelho, segundo a Pnad do IBGE. O PIB da construção civil baixa a mais de 6% ao ano.

    As concessões não andam, a crise dos distratos não se resolve, encalhes de imóveis nas empresas do ramo e nos bancos são imensos, não se dá um jeito de substituir empreiteiras bandidas em grandes obras que até têm financiamento —a lista de tarefas é ainda maior.

    A recuperação econômica é nanoscópica, repita-se. Agora, nos animamos com a possibilidade de crescer pouco mais do que ínfimo 0,5%, em vez de zero. Mas marolas na política (dada a maremotos de imundície) ou no câmbio, por exemplo, podem colocar nossos narizes abaixo d'água.

    Há travas pesadas em setores cruciais, como o crédito nos bancos, onde os juros caem muito devagar.

    O clima de desordem política e institucional e a perspectiva de maluquices na campanha de 2018 podem impedir a volta de um mínimo investimento privado, que ainda afunda em ritmo de depressão.

    Em vez de estarmos pensando se dá para crescer 2% em 2018, deveríamos estar tratando na prática de como crescer mais de 3%. Mas o Quadrilhão está à solta.

    vinicius torres freire

    Está na Folha desde 1991.
    Em sua coluna, aborda temas políticos e econômicos. Escreve de quarta a sexta e aos domingos.

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