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    Vinicius Torres Freire

    Partidos da Justiça no conflito social

    22/10/2017 02h00

    Juízes e procuradores do Trabalho organizaram-se com o objetivo de barrar artigos da reforma trabalhista. Procuradores da República e do Trabalho fizeram o primeiro grande movimento contra a portaria do governo Michel Temer sobre trabalho escravo.

    Embora o "trabalhismo de toga" não tenha nascido ontem, é notável o contraste do movimento de juízes e procuradores com a oposição fraca e fracassada de partidos de esquerda, sindicatos e movimentos
    sociais às reformas do trabalho.

    Também vem ao caso uma analogia do "trabalhismo de toga" com o "partido da Justiça". Esse é o nome que a esquerda deu aos militantes da Lava Jato e agregados, procuradores, juízes e policiais que seriam adversários ou inimigos a princípio do PT, depois do sistema político em si. Tal expressão começou a se disseminar no fim de 2015, a partir de artigos do cientista político André Singer, colunista desta Folha.

    Desde então, o sociólogo Luiz Werneck Vianna chamava a turma da Lava Jato de "tenentes de toga". Os comparou ao tenentismo dos anos 1920, o começo da organização política sistemática das Forças Armadas, que viriam a se tornar uma burocracia profissional e disciplinada com um projeto nacional salvacionista e autoritário. Aos "tenentes de toga", no entanto, faltaria um projeto com substância, além da ambição extravagante de destruir um sistema político podre.

    Esse evidente protagonismo dos vários "partidos da Justiça" é porém apenas um entre vários índices ou sintomas, como se queira, de uma política esvaziada de partidos.

    Embates ou pulsões políticas transmutam-se em meras disputas moralistas, querelas sobre pornografia nas artes, segurança ou ração para pobres, por exemplo. Líderes evangélicos se tornam príncipes eleitores a ungir presidenciáveis. Elites procuram um líder político fora da política, sem esforço de reorganizar a política partidária.

    Decerto há movimentos de refundação pela base, "start-ups" políticas ou "coletivos", todos por ora meros brotos verdes.

    Partidos conservadores, se é que merecem o nome, e lobbies empresariais no parlamento passam o trator na esquerda minoritária, desmoralizada e desarticulada com a sociedade. A aprovação da reforma trabalhista no Congresso, em julho, foi quase um passeio. Depois do suspiro final da greve de abril, a esquerda debandou ou bateu em retirada.

    No entanto, partidos da direita não defendem diante do eleitorado, de modo aberto e articulado, o plano mais ou menos liberal que passam no Congresso. É um programa sem rosto partidário e que pouco ousa dizer o seu nome.

    A Confederação Nacional da Indústria (CNI) e a Confederação Nacional dos Transportes (CNT) é que prometem tomar a atitude de ir ao STF ou ao Conselho Nacional de Justiça reclamar a aplicação das reformas das leis do trabalho caso o "trabalhismo de toga" tenha sucesso.

    Em público, em parte por motivos táticos, mesmo a bancada ruralista deu apoio discreto à portaria do trabalho escravo. Mas associações de empresas da construção civil e a CNI fizeram manifestos de apoio à portaria do trabalho escravo.

    Desde o Junho de 2013, a desertificação da política partidária apenas aumenta. Nesse ambiente, aparecem bichos políticos estranhos.

    vinicius torres freire

    Está na Folha desde 1991.
    Em sua coluna, aborda temas políticos e econômicos. Escreve de quarta a sexta e aos domingos.

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