• Colunistas

    Monday, 06-May-2024 16:23:58 -03
    Vinicius Torres Freire

    A disputa pela carniça do governo Temer

    15/11/2017 02h00

    A troca de uns ministérios por votos parecia a maneira restante de aprovar alguma reforma da Previdência. Até que, agora se vê, a troca de ministérios também se tornou um problema.

    Quando não é apenas sintoma de doença letal do governo, "ampla reforma ministerial" é um mito da política brasileira, tal como uma "profunda" reforma política ou a reforma tributária. Mais fácil ver o fogo que a mula sem cabeça solta pelas ventas que não tem.

    A reforma ministerial enrola problemas tais como redistribuição de feudos de exploração eleitoreira, a acomodação de gente desesperada por um foro privilegiado e a composição de alianças para a eleição de 2018. Melindres entre partidos maiores e a temporada de apostas em cavalos com chance de vitória na eleição presidencial dificultam ainda mais os acordos no Congresso.

    Difícil ver que desse emaranhado de problemas e conflitos saiam 308 votos para mudar a Previdência.

    Problema um, há disputa pela carniça do governo Temer. A redistribuição de ministérios não deve ser bastante para comprar o apoio de partidos do centrão, que começaram a brigar entre si pelo butim.

    Os votos ganhos pela doação de tal pasta a tal partido criam desafetos na outra turma, disputas de PR, PP, PRB e PSC. Além do mais, alas do PMDB e o DEM também querem levar o seu. Começou mal a coisa.

    Problema dois: muito ministro quer ficar na cadeira até o minuto final do prazo da desincompatibilização para se candidatar em 2018, a fim de usar o ministério como propaganda eleitoral, "business as usual".

    Três: Michel Temer precisa arrumar refúgios de foro privilegiado para aliados com rolo na polícia. Em suma, não vai ter cadeira para todo o mundo que queria vender voto por ministério.

    Quatro: PMDB e DEM fazem ameaças cada vez mais críveis de que vão largar o PSDB sozinho com Geraldo Alckmin. Não quer dizer que alianças e candidaturas principais sejam logo definidas. Mas o jogo de ameaças nesse sistema de alianças leva a guerra também ao Congresso.

    Quanto maior a possibilidade de candidaturas variadas nesse bloco, menos provável que os parlamentares das dissidências se empenhem muito em votar com o governo, mesmo com juras de amores pelas reformas.

    O PMDB já tem um racha lulista. O DEM se inclina cada vez mais pela candidatura do "outsider" de direita que suba nas pesquisas, qualquer um. O que vier traçam, desde que pareça um cavalo vencedor (que pode até ser Alckmin, se por milagre o governador subir logo nas pesquisas). Se o PSDB fingir que nada teve a ver com o governo Temer, parte do PMDB vai querer vingança, como vem dizendo Romero Jucá, ministro virtual, senador e presidente do partido.

    Nenhum desses rolos vai se resolver tão cedo ou tão facilmente: reforma agrária de feudos ministeriais, alianças locais, candidaturas a presidente. Ainda que sejam desembaraçados, não se sabe o saldo de insatisfações que restará. Esse tumulto, enfim, dificulta a "recomposição da base", a aquisição de votos até para aprovar o remendo do Orçamento ou da reforma trabalhista. Que dirá para a reforma da Previdência.

    Caso Temer aprove aprovar alguma mudança, terá tirado as meias sem tirar os sapatos.

    vinicius torres freire

    Está na Folha desde 1991.
    Em sua coluna, aborda temas políticos e econômicos. Escreve de quarta a sexta e aos domingos.

    Edição impressa

    Fale com a Redação - leitor@grupofolha.com.br

    Problemas no aplicativo? - novasplataformas@grupofolha.com.br

    Publicidade

    Folha de S.Paulo 2024