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    Vinicius Torres Freire

    PIB depende de fé e da política ruim

    03/12/2017 02h00

    Alguém se lembra dos planos de concessões, de rodovias, ferrovias, portos, e de privatizações de Michel Temer? Aqueles planos de colocar obras na rua, alguns ainda de 2016?

    Quando se observa o desastre da construção civil, a gente se lembra dos planos. Obras, não há.

    Neste ano, até setembro, a economia cresceu 0,6% em relação a 2016, soube-se pelo IBGE. Um nadica de nada. Mas a construção
    civil ainda afunda 6,1%.

    A ruína da construção civil refresca a memória de como o governo Temer preferiu gastar mal o dinheiro que nem tem. O investimento em obras (PAC) caiu 47% em um ano, da penúria de R$ 46 bilhões para a miséria de R$ 31 bilhões. Mas Temer deu aumento para o funcionalismo. A despesa com folha de pessoal aumentou R$ 24 bilhões nesse mesmo ano. O gasto extra com o funcionalismo seria bastante
    para aumentar o investimento "em obras" em quase 80%.

    Não seria grande coisa, 0,4% do PIB a mais. Mas vivemos de melhoras minúsculas, se tanto. Ficamos até aliviados com o crescimento de 0,1% do PIB no terceiro trimestre.

    Sim, o resultado foi melhor do que parece; a demanda (consumo) cresceu mais do que o PIB (foi satisfeita com desova grande de estoques). Mas é um tico de nada, ainda.

    Nas partes do PIB que ainda estão no vermelho, outro destaque ruim é o crédito ("atividades financeiras" etc.). O crédito bancário ainda vai encolher neste ano. As empresas estão ainda avariadas,
    endividadas, e os bancos jogam na retranca, conjunção de dieta com falta de apetite. No ano que vem, dizem bancões, o crescimento
    do crédito seria quase nenhum.

    Sem investimento público, sem concessões de obras para empresas privadas e sem crédito para empresas, a princípio o crescimento do PIB dependerá outra vez de consumo.

    Ou seja, dependerá da fé e da melhora do poder de compra dos
    trabalhadores, que pode sofrer se não tivermos uma inflação muito comportada, pois o desemprego enorme (e talvez a reforma trabalhista) vai conter altas de salários. O consumo dependerá também do fim do processo de pagamento de dívidas pelas famílias e de uma melhorazinha no crédito para o consumidor,
    que mal começou neste 2017.

    Afora isso, o consumo dependeria de uma animação extraordinária de famílias que têm algum para gastar, mas ainda estariam
    na retranca, com medo do futuro.

    O medo do futuro, "incerteza", basicamente medo do salseiro político de 2018, pode travar investimentos das empresas, os quais já não seriam grande coisa, pois há capacidade ociosa e dívidas a pagar.

    Parte do tumulto político e administrativo se deve ao fato de o governo Temer ter emperrado por causa de seus problemas renovados com a polícia. Parte do rebu se deve a este Congresso xucro e a seus bandos de gente ocupada em fugir da Justiça, de raras figuras ocupadas em dar um jeito no desastre das contas do governo. Parte da "incerteza", enfim, se deve a candidaturas presidenciais que propõem idiotices e desatinos para governar
    o país a partir de 2019.

    Devemos crescer 1% neste 2017. Para 2018, o jogo começa em 2,5%. A turumbamba política e a inércia de Temer nos investimentos ameaçam jogar esse número para baixo já no primeiro trimestre do ano que vem.

    vinicius torres freire

    Está na Folha desde 1991.
    Em sua coluna, aborda temas políticos e econômicos. Escreve de quarta a sexta e aos domingos.

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