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    Vinicius Torres Freire

    'A Embraer é nossa', Temer e Negócios

    22/12/2017 02h00

    A conversa da venda da Embraer para a Boeing criou um problema para Michel Temer, embora o negócio possa ser interessante para a empresa brasileira. Por falar nisso, o que significa "brasileira"?

    Os militares detestaram a ideia. O entorno político de Temer acha que a história pode se tornar uma dor de cabeça extra, ainda mais para um governo tido como "entreguista". A primeira reação de Temer ao negócio foi ruim.

    Economistas do Ministério da Fazenda gostaram.

    O governo pode impedir a venda da empresa, por direito legal.

    Para começar: quem é "dono" da Embraer? Uma penca de acionistas. Pelos dados públicos, o maior acionista é uma empresa americana de investimentos, a Brandes, com 15% das ações. É um tipo de firma que administra aplicações de investidores institucionais (como fundos de pensão) e de muito ricos. A gente não sabe quais clientes (ou cliente) da Brandes têm parte na Embraer.

    A Brandes tem ainda participação no grupo GPA (Pão de Açúcar, Ponto Frio, Casas Bahia) e na Estácio, por exemplo. A britânica Mondrian, outra firma do tipo do Brandes, vem a seguir, com 10,12% das ações. Depois, com cerca de 5% cada, vêm o BNDES, o fundo BlackRock e a Previ (fundo de pensão do Banco do Brasil). Daí, vêm duas centenas de investidores institucionais.

    A CHINA VEM AÍ

    Por que a Embraer seria um negócio para a Boeing, além de já serem parceiras? Porque a brasileira vai bem no negócio de jatos médios, "estreitos", que cresce. A empresa americana participa desse mercado apenas no topo dessa gama "média", na qual concorre com a Airbus e, em breve, com os chineses.

    Uma estatal chinesa, a Comac, lançou um jato médio menor, em tese concorrente da Embraer, mas tropeçou. Em 2020, vai colocar na praça um avião maior que os da Embraer, concorrente dos médios ("de cabine estrita") da Boeing e da Airbus.

    Ou seja, a Comac vai entrar nesse mercado que está na parte de baixo das linhas de aviões maiores das gigantes Boeing e Airbus e na parte de cima do mercado em que a Embraer atua e cresce. Ou seja, pode amolar todo mundo.

    Em tese, a compra da Embraer pela Boeing pode ser uma tentativa de ensanduichar os chineses e vencer a Airbus.

    Enfim, o que a sueca Saab, parceira da Embraer na montagem e na tecnologia do caça Gripen, vai achar do negócio?

    POLÍTICA

    Em julho, a Fazenda consultou o TCU sobre como seria possível o governo se livrar das participações especiais ("golden shares") em empresas como Embraer e Vale.

    Em tese, o poder de veto do governo reduz o valor de mercado das empresas. Até por isso mesmo, essas ações de classe especial ou esse direito de intervenção valem dinheiro. Quem pagaria pelo fim do poder de veto? Os acionistas. Vão querer?

    O TCU ainda analisa o assunto.

    O que o governo ora pode vetar? 1) Mudança de nome, logomarca e objetivo da empresa; 2) Criação ou alteração de programas militares; 3) Capacitação de terceiros em tecnologia militar; 4) Interrupção de fornecimento de peças de para aviões militares; 5) Transferência do controle acionário da empresa.

    vinicius torres freire

    Está na Folha desde 1991.
    Em sua coluna, aborda temas políticos e econômicos. Escreve de quarta a sexta e aos domingos.

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