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    Xico Sá

    É o pio do povo, doutor

    29/06/2013 03h00

    Amigo torcedor, amigo secador, peço a devida licença para me dirigir novamente ao doutor Sócrates, em mais uma carta deste epistolar cronista, afinal de contas é impossível não lembrar do cara da "Democracia Corinthiana" em uma hora tão rica, quando o futebol e as ruas se encontram para desaguar na "pororoca social" ou, melhor ainda, para rebobinar a fita do "Terra em Transe", o filme de Glauber.

    É, Magrão, como me disseste lá na Pompeia, no bar do Expedito, esse negócio de futebol como ópio do povo não cola. O papa-capim do mineiro, na gaiola como testemunha, que o diga. É o que vimos agora na Copa das Confederações, meu velho. Em vez de ópio, o pio. E não me xingues pelo trocadilho infame. É de grife. É do Millôr. Nem é do nosso Mazinho, o campeão no gênero.

    Em vez de anestesiante, doutor, o futiba que deu as cartas e a visibilidade aos protestos. Nego cercou as arenas como pôde. Sempre a rogar por "padrão Fifa" para uma vida inteira e cotidiana, não só no esporte das massas. Até mesmo a classe que pagou ingressos caríssimos não se calou nessa hora. A cartilha suíça foi para as cucuias, em Fortaleza ou em Caucaia. Desobediência do hino à placa dos acréscimos.

    Os Dorivais enfrentaram a guarda, como no filme dos gaúchos Jorge Furtado e José Pedro Goulart. Um Dorival cearense, Magrão, conterrâneo do teu pai, seu Raimundo, desafiou a tropa e foi parar até na capa do "New York Times". Cito o jornalão americano só para lembrar quando bradávamos em uníssono, na Mercearia São Pedro: "Grande merda".

    É, doutor, deu o óbvio: Brasil pega a Espanha na final de domingo. A derradeira vez que vencemos em Copa foi com um gol teu, lembras? Pelo que sei, não recordas, nunca fizeste questão de memória. Em matéria de vaidade, querias o teu em grandes conversas na távola redonda dos nossos bares prediletos ""com moças bonitas de preferência.

    Falar nisso, estive outra noite, com teu filho Gustavo, teu irmão Raimar & família. Foi um chororô bonito, pra cima, aquele choro de quem ouve a longa estrada da vida, do tempo em que o sertanejo era "mobral" e bonito. Raimar estava impossível, depois te conto, amigo.

    E sabe quem apareceu? Acertou de primeira: Paulo César Caju, esse gênio de bola e cuca. Foi lá mesmo. No bar do Chico e da Alaíde. Outro que vi recentemente, em um papo sobre o teu livro de crônicas foi o prezado Afonsinho, o craque botafoguense que inventou o passe livre.

    É, doutor, aqui na terra vão jogando futibô, muito samba, muito choro e rock'n'roll... A coisa aqui tá linda, digo em matéria de inconformismo e confusão propriamente dita, a história se bolindo em nossa frente, momento rico que não cabe em uma crônica e muito menos em minhas lágrimas sempre renovadas, viver é cachoeira, até a próxima.

    @xicosa

    xico sá

    Escreveu até outubro de 2014

    Jornalista e escritor, com humor e prosa. É autor de "Modos de Macho & Modinhas de Fêmea" e "Chabadabadá - Aventuras e Desventuras do Macho Perdido e da Fêmea que se Acha", entre outros livros. Na Folha, foi repórter especial. Também mantinha um blog no site da Folha.

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